🏀 “Destino: Riga” – Portugal no mapa
Portugal terminou o EuroBasket no 15.º lugar, mas entrou pela primeira vez na fase a eliminar. Defesa coletiva e Neemias Queta mudaram a perceção: os “Linces” pertencem ao lote das melhores da Europa.
“Destino: Riga” é o diário de bordo da seleção portuguesa rumo ao EuroBasket 2025: jogos, atualidade e bastidores, sempre com olhos postos também no que acontece nas outras seleções. No final de cada edição, telegramas curtos com os principais destaques da atualidade. A missão é clara: contar tudo sobre o EuroBasket.
🇵🇹 Contra o ranking, com identidade
Portugal entrou no EuroBasket como claro underdog: pior ranking do Grupo A e o segundo mais baixo entre as 24 seleções, só acima do Chipre, anfitrião convidado. Com um “joker” que alterou a hierarquia do grupo — Neemias Queta, primeiro e único português na NBA —, a equipa de Mário Gomes construiu uma campanha com identidade defensiva: ritmo do jogo baixo, área restritiva fechada aos adversários, proteção de cesto com um intimidador de elite. A Seleção Nacional não foi brilhante no ataque, mas foi competente onde mais importou. Resultado: voltar a vencer 18 anos depois, histórico apuramento para os “oitavos” e 30 minutos de braço-de-ferro com os campeões do mundo.
Um grupo sem rede
Portugal caiu num pelotão cruel: três potências teóricas de medalha (Sérvia, Turquia, Letónia) e duas “finais” diretas no seu “campeonato”, frente a Chéquia e Estónia. Do outro lado houve baixas relevantes, mas Portugal também não chegou inteiro: Gonçalo Delgado e Anthony da Silva lesionados na preparação, André Cruz fora por lesão grave anterior e Rúben Prey indisponível. Mesmo assim, o objetivo declarado foi sempre o mesmo: passar a fase de grupos. O plano era pragmático: ganhar o primeiro e o ultimo jogo.
Duas chaves, três lições
Estreia que muda a perceção (62-50 à Chéquia): Nervos da estreia sob controlo e uma exibição para a história de Neemias (23 PTS, 18 REB, 4 BLK). Defesa a forçar 19 turnovers checos e oxigénio em transição para cobrir um ataque ainda engasgado. Rafael Lisboa destravou o 3.º período com dois triplos seguidos.
Paredes de elite (Sérvia, Turquia, Letónia): Com a Sérvia, Portugal esteve a duas posses até Nikola Jokić ligar o modo inevitável com 13 pontos seguidos. Na noite seguinte, a Turquia esmagou fisicamente no jogo interior. Contra a Letónia, o pior cenário: Kristaps Porziņģis afinou a pontaria e um 2.º período de 27-7 selou a história. Três jogos, três lições.
Jogo de nervos e caráter (68-65 à Estónia): Exclusão de Neemias a meio do 3.º quarto, emoção a ferver e uma resposta que vem de anos a jogar sem a estrela nas janelas FIBA. Miguel Queiroz e Travante Williams seguraram a fortaleza, Lisboa assinou o triplo do empate e matou na linha de lance livre.
“Oitavos” vs. Alemanha (58-85): Trinta minutos de contenção exemplar e um 4.º período que expôs a diferença de profundidade e frescura. A aposta em fechar o pintado ofereceu triplos abertos a uma Alemanha em noite gélida até Maodo Lo abrir a torneira após 1/24 dos germânicos. Do 52-51 nasceu o parcial que decidiu tudo. Faltou combustível para 10 minutos extra.
Identidade: virtudes e limites
Defesa 5x5 em meio campo: Portugal baixou ritmos, fechou linhas de passe e levou adversários a lançamentos difíceis. A prioridade era fechar a área pintada, negar penetrações e limpar tabela.
Proteção de cesto: Com Neemias, o pintado encolheu: intimidação, desarmes, alterações de trajetória e segurança no ressalto. Sem ele, as equipas atacaram o aro com mais confiança, sublinhando onde a manta é mais curta.
Resiliência competitiva: Houve oscilações, mas também houve respostas: de Diogo Brito contra a Sérvia, de Rafael Lisboa no “tudo ou nada”, do coletivo na gestão emocional das duas “finais” do grupo.
Execução ofensiva insuficiente: Percentagens de 34,6% de campo, 42,3% nos dois pontos, e 24,7% nos triplos. Com este perfil, ganhar duas vezes exigiu excelência no lado defensivo. A ausência de volume fiável no tiro exterior não puniu ajudas defensivas sobre Neemias.
Portugal fecha em 15.º lugar
Portugal terminou o EuroBasket 2025 em 15.º lugar, classificação que não entra para o topo do palmarés — em 2007, em Espanha, a Seleção chegou a um histórico 9.º lugar. Ainda assim, o resultado em Riga tem um significado próprio: pela primeira vez, Portugal avançou para a fase a eliminar de um Campeonato da Europa.
A equipa de Mário Gomes fechou a fase de grupos com 2-3, vencendo Chéquia e Estónia, e caiu nos “oitavos” contra a campeã do mundo Alemanha. Na hierarquia final, surge como 4.º classificado do Grupo A e à frente apenas da Suécia entre as equipas que chegaram ao top-16. Para lá do número, a presença nos “oitavos” sinaliza um passo em frente: Portugal já compete dentro do círculo das melhores seleções do continente.
🦁 Os “Linces”, um a um
Neemias Queta
O poste dos Boston Celtics foi a grande figura da Seleção, mesmo com apenas 24 minutos de utilização média. Muito para lá da folha estatística, Neemias reposicionou Portugal no mapa competitivo. A simples presença do gigante do Vale da Amoreira altera scouting, cria gravidade e eleva a confiança de um grupo que manteve a Sérvia desconfortável durante longos períodos e a Alemanha a pensar durante três quartos. Fechou o EuroBasket com médias de 15,5 pontos, 8,0 ressaltos e 1,7 desarmes de lançamento, com 57,6% de eficácia, e assinou frente à Chéquia o jogo mais dominante da história recente do basquetebol português (23 PTS, 18 REB, 4 BLK).
Travante Williams
Foi o farol defensivo no perímetro e o segundo melhor marcador da equipa (11,0 pontos). Somou 10 roubos nos dois primeiros jogos e deu a intensidade que manteve Portugal competitivo contra adversários de topo. No ataque, viveu altos e baixos (26,8% em triplos), mas na reta final voltou a ser decisivo, sobretudo na segunda parte contra a Estónia.
Rafael Lisboa
Um EuroBasket de afirmação. Lançador clutch, apareceu sempre nos jogos grandes. Frente à Chéquia (15 pontos) abriu a vantagem decisiva no 3.º quarto; contra a Letónia (17 pontos, 4 AST) liderou o ataque; frente à Estónia foi herói absoluto com triplo monumental e serenidade nos lances livres. A eficácia (25,7% 3PT) não reflete o impacto real.
Miguel Queiroz
Capitão e estabilizador, esteve menos nos números e mais em tudo o resto. Foi decisivo contra a Estónia, já sem o excluído Neemias, ao jogar 35 minutos e terminar com 10 pontos, 9 ressaltos e 3 assistências. Liderou pelo exemplo, manteve a equipa coesa e fez da veterania um recurso precioso.
Diogo Brito
EuroBasket de extremos: abriu em falso contra a Chéquia (0/11), brilhou frente à Sérvia com 22 pontos e 9 ressaltos, mas voltou a ter dificuldades ofensivas no resto da prova (22,2% 2PT; 21,4% 3PT). Ainda assim, foi peça chave no perímetro defensivo, ao lado de Travante.
Diogo Ventura
Dividiu funções de base com Rafael Lisboa e Diogo Gameiro, acrescentando físico e intensidade defensiva. Lesão na última posse de bola com a Estónia impediu-o de jogar o “mata-mata” frente à Alemanha.
Diogo Gameiro
Base cerebral e sereno, com capacidade de leitura no bloqueio direto e ligação eficaz com Neemias. Bons minutos, nos dois lados do campo, frente a Estónia e Alemanha.
Cândido Sá
Stretch-4 da rotação, deu minutos sólidos a espaçar o campo (38,5% 3PT) e ofereceu versatilidade defensiva. Brilhou frente à Letónia (8 PTS, 5 REB).
Daniel Relvão
Substituto direto de Queta, sofreu na proteção do aro por ser alvo preferencial dos adversários. Ofereceu luta nas tabelas (um jogo com 7 ressaltos, outros dois com 6).
Francisco Amarante
Extremo versátil e usado como ballhandler em situações de maior pressão sobre os bases lusos. Contribuiu com energia, mas com papel irregular.
Vladyslav Voytso
Perdeu espaço ao longo do torneio. Média de 12 minutos por jogo, mas pouco procurado no meio campo ofensivo, em especial no tiro exterior (1/5 3PT).
Nuno Sá
Último extremo da rotação, falhou dois jogos por opção. Energia e entrega sempre que lançado, mas com impacto limitado no quadro global.
📖 O lugar de Neemias na história
O EuroBasket 2025 não foi apenas o torneio em que Portugal quebrou um jejum de 18 anos sem vitórias e chegou, pela primeira vez, aos oitavos-de-final. Foi também o palco em que Neemias Queta inscreveu o seu nome nos livros de recordes do basquetebol português.
O poste de 26 anos e 2,13 metros terminou a competição com 93 pontos em seis jogos (15,5 de média), fixando novos máximos nacionais: ninguém tinha marcado tantos pontos numa única fase final, nem atingido uma média tão elevada. O registo anterior eram os 68 pontos de Mário Nogueira de Almeida, em 1951, e os 12,3 pontos de média de António Tavares, em 2011.
O ranking histórico dos lusos em fases finais é agora liderado por João Santos, com 111 pontos entre 2007 e 2011. Queta surge logo atrás, a apenas 18 pontos de igualar o topo. Elvis Évora (73), Miguel Miranda (72) e Nogueira de Almeida (68) completam o top-5. Travante Williams, com 66 pontos em Riga (11,0 de média), igualou Philippe da Silva no 6.º lugar. Rafael Lisboa também garantiu lugar nos 10 melhores marcadores de sempre em Europeus, ao fechar o torneio com 60 pontos (10,0 de média).
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🇬🇪 Surpresa: Geórgia elimina a França
A Geórgia escreveu a maior página da sua história no EuroBasket: vitória por 80-70 sobre a França e primeira presença nos quartos-de-final. Tornike Shengelia (24 PTS) e Kamar Baldwin (24 PTS, 8/10 FG) comandaram a equipa de Aleksandar Džikić, que já tinha batido a campeã Espanha na fase de grupos. A chave esteve no tiro exterior: 10/18 para os georgianos contra 6/36 dos franceses. A França, sem Victor Wembanyama, Rudy Gobert e Evan Fournier, falha o top-8 pela segunda vez nos últimos 25 anos. Segue-se duelo de underdogs: Geórgia–Finlândia nos quartos.🇬🇷 Giannis arrasa, Grécia nos quartos
A Grécia bateu Israel por 84-79 e carimbou a nona presença no top-8 europeu nas últimas dez edições. Giannis Antetokounmpo esteve imparável: 37 pontos em 18/23 lançamentos e 10 ressaltos, prolongando a série para dez jogos seguidos acima dos 25 pontos — só Nikos Galis tem mais na história. Israel resistiu até ao fim, com Deni Avdija a somar 22 pontos, mas nunca conseguiu virar o jogo. Kostas Sloukas, Alexandros Samodurov e Kostas Antetokounmpo sustentaram a rotação escolhida por Spanoulis, que colocou Giannis como “5” de início. Nos quartos, a Grécia mede forças com a Lituânia.🇸🇮 Luka Magic: 42 pontos e Eslovénia nos quartos
Luka Dončić voltou a assinar uma exibição para a história: 42 pontos, 10 ressaltos e 3 roubos na vitória da Eslovénia sobre a Itália (84-77). O base do Los Angeles Lakers fez 22 pontos só no 1.º quarto e 30 até ao intervalo, prolongando a sua série para seis jogos seguidos acima dos 25 pontos. Itália ainda reduziu de 19 para um ponto de desvantagem, mas Dončić fechou o jogo na linha de lance livre. Foi o seu 4.º jogo com 30+, juntando-se ao grupo restrito de jogadores com mais de uma partida acima dos 40 em Europeus. A Eslovénia, oitava vez nos quartos em nove edições, vai defrontar a campeã do mundo Alemanha.🇵🇱 Polónia volta ao top-8 europeu
A Polónia derrotou a Bósnia e Herzegovina por 80-72 e garantiu a segunda presença consecutiva nos quartos de final, algo que não acontecia desde 1971. Jordan Loyd foi decisivo com 26 pontos, bem acompanhado pelo capitão Mateusz Ponitka (19 PTS, 9 REB, 3 STL). Do outro lado, Jusuf Nurkić (20 PTS) e John Roberson (19 PTS) mantiveram os bósnios na luta até ao último quarto, mas a diferença esteve no ressalto ofensivo (16) e nos lances livres (24/29 contra 11/20). Depois da campanha histórica em 2022, os polacos voltam a sonhar com as meias-finais e vão agora defrontar a Turquia.