🏀 “Destino: Riga” – História: Portugal nos oitavos do EuroBasket
Uma tarde de nervos, marcada pela exclusão de Neemias Queta e pelo heroísmo de Rafael Lisboa, Miguel Queiroz e Travante Wiliams, valeu à Seleção a primeira presença de sempre na fase a eliminar.
“Destino: Riga” é o diário de bordo da seleção portuguesa rumo ao EuroBasket 2025: treinos, jogos e bastidores, sempre com olhos postos também no que acontece nas outras seleções. No final de cada edição, telegramas curtos com os principais destaques da atualidade. A missão é clara: contar tudo sobre o EuroBasket 2025.
🇵🇹 Portugal faz história e chega aos oitavos-de-final
Portugal escreveu uma das páginas mais bonitas da sua história no basquetebol. Em Riga, perante uma Estónia empurrada por milhares de adeptos que pintaram a Arena Riga de azul, a Seleção Nacional venceu por 68-65 e garantiu, pela primeira vez, a presença na fase a eliminar de um EuroBasket. Foi uma vitória num jogo de nervos e superação, marcado pela exclusão de Neemias Queta (15 PTS, 3 REB, 1 STL, 1 BLK) a meio do terceiro período.
A partida começou tensa, com as duas equipas a sentirem o peso da decisão. O intervalo chegou com a Estónia na frente (32-27), depois de um primeiro tempo em que Portugal sofreu no tiro exterior e viveu do trabalho coletivo nas tabelas. O início da segunda parte parecia encaminhar o jogo para o mesmo guião, até que surgiu o momento de maior choque da noite: Neemias Queta foi excluído após acumular duas faltas técnicas, deixando a equipa sem a sua principal referência ofensiva e defensiva.
O que poderia ter sido o ponto de rutura transformou-se numa prova de caráter. Miguel Queiroz (10 PTS, 9 REB, 3 AST) assumiu no terceiro quarto, Travante Williams (11 PTS, 8 REB, 4 AST, 3 STL) multiplicou-se em esforços defensivos, e a entrada de Rafael Lisboa (17 PTS, 1 REB, 5 AST) trouxe clarividência no ataque. Um triplo de Lisboa, seguido de lançamentos decisivos da linha de lance livre, deu a Portugal a vantagem nos instantes finais, depois de Arthur Konontsuk ter incendiado os estónios com uma sequência de triplos.
Com poucos segundos para jogar, Kristian Kullamäe ainda tentou o milagre do meio da rua, mas a bola não entrou. A buzina soou, e o pavilhão explodiu em emoções cruzadas: o silêncio pesado dos adeptos estónios, a festa efusiva da comitiva portuguesa. No rescaldo, Neemias saiu da condição de protagonista do jogo para símbolo da resiliência portuguesa: mesmo sem a sua maior estrela em campo, a Seleção encontrou no coletivo a força para derrubar a Estónia e conquistar um lugar histórico entre as 16 melhores da Europa.
Portugal regressa à Arena Riga no sábado, 6 de setembro (15h15 locais, 13h15 em Lisboa), para enfrentar a campeã do mundo Alemanha, ainda invicta no torneio, nos oitavos-de-final do EuroBasket 2025.
Miguel Queiroz: “Quando o Neemias saiu, disse no banco: ‘vamos ganhar’ e ganhámos”
O capitão Miguel Queiroz não escondeu o orgulho na forma como a Seleção respondeu à adversidade. Sublinhou a importância de acreditar no caminho traçado há anos e destacou a união mostrada no momento mais difícil, quando Portugal perdeu a sua principal referência em campo.
“O sentimento é muito bom e há algo importante que temos de levar para as nossas vidas: temos de acreditar no caminho que traçamos, sempre, e nunca nos desviar. Quando fazemos isso, estamos mais perto de alcançar as coisas. Mesmo quando há dias maus, não pode haver dúvidas: é continuar no nosso caminho, continuar a acreditar naquilo que estamos a fazer. Foi o que esta equipa fez. Mostrou muita confiança no trabalho que tem vindo a ser realizado já há alguns anos. Traçámos um caminho que, para nós, era muito importante para atingir os objetivos: ganhar o primeiro e o quinto jogo, sabendo que estávamos a defrontar as melhores equipas da Europa e do Mundo.”
“Quando veio a terceira derrota seguida, senti que começaram a surgir dúvidas. Será que eles são capazes? Afinal, já não jogam tanto... Mas a equipa nunca duvidou, e isso é o que me deixa mais orgulhoso. É sempre muito importante, quando há uma contrariedade, haver pessoas que dão um passo em frente. As equipas são isso: quando um não está, há outro que responde. Isso são verdadeiras equipas, e foi isso que aconteceu. Quando o Neemias saiu, disse no banco: ‘vamos ganhar, vamos ganhar’ — e ganhámos.”
Rafael Lisboa: “Estou sempre a sonhar com este tipo de lançamentos”
Herói da partida, Rafael Lisboa viveu um jogo de sonho e não conseguiu esconder a emoção. O base falou da concretização de um objetivo definido há cinco anos, da força coletiva da Seleção e da confiança inabalável que sentiu no momento de assumir o triplo decisivo.
“Não tenho palavras. São cinco anos de trabalho. Quando cheguei à Seleção, o objetivo traçado foi estar no EuroBasket 2025, e a primeira coisa que dissemos quando nos qualificámos, sem sequer saber o grupo, foi que o nosso objetivo era chegar aos oitavos-de-final. Por isso, é o cumprir e o alcançar de um objetivo. E não tenho palavras para esta equipa... não tenho adjetivos. O caráter é incrível, é impressionante. É muito bom fazer parte desta equipa, porque estamos sempre lá uns para os outros. O jogo não foi sempre bem jogado, mas foi ganho com o coração. E isso ninguém nos pode apontar: nós damos sempre tudo por Portugal. Esta equipa em particular... até me emociono porque não tenho palavras. Muitas vezes estamos nos nossos clubes, não temos muito tempo para trabalhar juntos, mas sempre que vimos aqui parece que estamos juntos o ano inteiro. Porque a malta dá-se super bem. Dentro de campo somos uma família, fora de campo somos uma família. Como disse, não tenho palavras. Estou muito contente.”
“Obviamente, perder a nossa referência, o nosso melhor jogador, num momento daqueles, é complicado. Mas se há equipa capaz de responder a esses momentos, é esta. Unimo-nos. Quando ele saiu, a primeira coisa que pensei foi: perdemos o Neemias, perdemos a referência. Mas logo a seguir pensei: este jogo é para nós. Quando este tipo de coisas acontece com uma equipa com este caráter, que se une desta maneira e joga com o coração, é muito difícil ganharem-nos.”
“Estou sempre a sonhar com este tipo de lançamentos, em que a bola vem para as minhas mãos e eu decido o jogo. Às vezes sinto que lancei bem, mas afinal não foi um grande lançamento. Desta vez, quando a bola me chegou às mãos, tinha o toque certo. Sentia que ia entrar. E entrou. Foi perfeito.”
Diogo Gameiro: “Cumprimos o plano de jogo na perfeição”
Satisfeito e emocionado, Diogo Gameiro sublinhou o caráter coletivo da Seleção no triunfo frente à Estónia. O base destacou a forma como Portugal respondeu à expulsão de Neemias Queta, a união demonstrada em cada posse de bola e o orgulho de ter alcançado o objetivo traçado.
“Estamos superfelizes. Ficou à vista de toda a gente o quanto queríamos alcançar o objetivo que tínhamos definido. Ficámos sem o Neemias a meio do jogo, mas a equipa não se desuniu. Perdemos um dos nossos principais jogadores, mas a equipa conseguiu dar uma excelente resposta. Lutámos por cada posse de bola, no ataque fomos pacientes e estamos extremamente felizes. Grande vitória para Portugal, grande vitória para o basquetebol português. Cumprimos o plano de jogo na perfeição, cumprimos com o orgulho e com a raça portuguesa. Acho que esta vitória é extremamente merecida. O principal objetivo está cumprido.”
Mário Gomes: “Sabia que a equipa ia unir-se e não ia deitar a toalha ao chão”
O selecionador Mário Gomes dividiu méritos com todos os que ajudaram a chegar a este momento histórico e deixou claro que a Seleção respondeu como equipa à expulsão de Neemias Queta. O técnico garantiu que a preparação para os oitavos mantém-se com a mesma seriedade e sem pressão quanto a resultados.
“Nós estamos a viver este momento porque chegámos aqui, e para chegarmos aqui muita gente ajudou. O meu primeiro pensamento depois do jogo foi dedicar este momento ao André (Cruz), ao Ricardo (Monteiro), ao Gonçalo (Delgado) e ao Tony (Anthony da Silva).”
“Eu não sabia o que ia acontecer quando perdemos um jogador com a importância que o Neemias tem na nossa equipa. Sou treinador, não sou bruxo, não sou mágico, nem guru. Mas havia uma coisa que eu sabia: sabia que a equipa ia reagir, ia unir-se e não ia deitar a toalha ao chão. Se ia ser suficiente ou não, logo se veria. Felizmente, foi suficiente.”
“Agora? Preparar o próximo jogo, como preparámos todos, com a mesma pressão que tivemos desde que aqui chegámos, que é a pressão de termos a obrigação de jogar o melhor que pudermos, de dar o máximo dentro de campo, sem qualquer pressão em relação aos resultados. Foi assim até agora e, por maioria de razão, vai ser assim no próximo jogo. Nada de especial: descansar, o corpo e especialmente a cabeça. Depois, a partir de sexta-feira, preparar o jogo seguinte. Ainda não sabemos contra quem vai ser, mas vamos trabalhar com a mesma honestidade e com a mesma seriedade que nos trouxeram até aqui.”
📖 FIBA destaca a caminhada histórica de Portugal
O site oficial da FIBA publicou um artigo onde sublinha que a Seleção Nacional não é apenas Neemias Queta, mas sim uma equipa com identidade, carácter e uma ligação emocional rara. O texto recorda o ambiente ensurdecedor dos 5 mil adeptos estónios em Riga, que se transformou em silêncio no momento em que Rafael Lisboa lançou — e converteu — o triplo que mudou o destino da partida.
A peça da FIBA recorda ainda a herança de Carlos Lisboa — pai de Rafael e um dos mais titulados jogadores da história do basquetebol português — e reforça que, ao contrário do que aconteceu em 2007, Portugal chega agora aos oitavos-de-final com a sensação de que pertence à elite europeia. Uma equipa que resiste sem a sua estrela da NBA e encontra na união o caminho para fazer história.
🇹🇷 Turquia vence Sérvia em duelo de gigantes e fecha no 1.º lugar
Arena cheia em Riga para o jogo que decidia o vencedor do Grupo A. Sérvia e Turquia chegaram à última jornada invictas (4-0) e ofereceram um espetáculo à altura, com 8 empates e 15 trocas de liderança. A decisão caiu nos instantes finais: Şehmus Hazer deu vantagem aos turcos com um triplo, Nikola Jokić respondeu com um ressalto ofensivo e dois pontos, mas Alperen Şengün voltou a assumir, primeiro a atacar o cesto, depois a roubar a bola decisiva a Marko Gudurić. Shane Larkin fechou o triunfo da linha de lance livre (95-90).
A exibição monumental de Şengün — 28 pontos, 13 ressaltos e 8 assistências — foi acompanhada pelos contributos de Cedi Osman e Shane Larkin, para um total de 67 pontos do trio. Do lado sérvio, Jokić brilhou com 22 pontos, 9 ressaltos e 4 assistências, mas não evitou a primeira derrota da Sérvia em fases de grupos desde 2017. Com este desfecho, a Turquia cruza nos oitavos com a Suécia, enquanto a Sérvia medirá forças com a Finlândia.
🇱🇻 Letónia fecha fase de grupos com recorde de pontos frente à Chéquia
Num Arena Riga lotado, a Letónia impôs-se à Chéquia por 109-75 e igualou o recorde nacional de pontos marcados num jogo de EuroBasket (109), estabelecido em 2005 frente a Espanha. Foi apenas a quinta vez na história que os letões ultrapassaram a barreira dos 100 pontos, e a primeira desde 2017.
Dāvis Bertāns liderou a festa ofensiva com 20 pontos, a par do irmão Dairis (20), com Kristaps Porziņģis (16) e Rolands Smits (16) também em grande destaque. Ao intervalo já havia festa nas bancadas e o terceiro período (28-12) confirmou a vitória larga. Apesar do triunfo expressivo, o resultado não alterou a classificação: a Letónia termina o Grupo A no 3.º lugar, atrás de Sérvia e Turquia, enquanto a Chéquia sai do torneio sem vitórias.
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🇩🇪 Alemanha imparável fecha Grupo B com 5-0
A campeã do mundo não deu hipóteses à Finlândia e venceu por 91-61 em Tampere, terminando invicta (5-0) a fase de grupos. Franz Wagner brilhou com 23 pontos, 7 ressaltos e 3 assistências em apenas 20 minutos, bem apoiado por Dennis Schröder (16 pontos, 7 ressaltos, 9 assistências). Olivier Nkamhoua (16+10) foi o melhor dos anfitriões, mas os alemães dominaram em todos os capítulos (57% de eficácia ao intervalo) e prolongaram a sua série perfeita no EuroBasket: 25 vitórias em jogos em que lideravam por 10 ou mais pontos ao descanso. A Finlândia segue em 3.º lugar, também apurada para os oitavos em Riga.
🇮🇹 Itália festeja apuramento com vitória sobre a campeã Espanha
Depois de um arranque em falso (0-13), a Itália reagiu e bateu a Espanha por 67-63 em Limassol, confirmando a presença nos oitavos de final do EuroBasket. Marco Spissu decidiu na linha de lance livre nos segundos finais, num duelo marcado pelo equilíbrio. Mouhamet Diouf destacou-se com 14 pontos e 8 ressaltos em 19 minutos, enquanto Saliou Niang assinou um duplo-duplo (10+10) antes de sair lesionado. A campeã em título cai para 2-2 e arrisca ficar de fora, precisando de vencer a Grécia na última jornada.🇸🇮 Eslovénia sofre mas garante passagem aos oitavos
Com Luka Dončić a comandar (26 pontos, 7 ressaltos, 4 assistências), a Eslovénia venceu a Islândia por 87-79 e carimbou o passaporte para Riga e para os oitavos-de-final. O triunfo beneficia também a França, que assegura já lugar na fase seguinte do EuroBasket. Martin Hermannsson brilhou pelos islandeses com 22 pontos, mas os 18 turnovers da equipa nórdica acabaram por ser fatais.🇫🇷 Noite épica de Yabusele e baixa dura para a França
Guerschon Yabusele assinou a melhor exibição da carreira pela seleção francesa, com 36 pontos no triunfo por 83-76 frente à anfitriã Polónia, resultado que baralha as contas do topo do Grupo D já com todas as equipas apuradas. Mas a festa ficou parcialmente estragada: Alexandre Sarr, poste dos Washington Wizards, foi afastado do EuroBasket devido a uma lesão na perna esquerda. O jovem de 19 anos era uma das apostas da nova geração gaulesa num plantel sem várias estrelas interiores.🇱🇹 Choque para a Lituânia: Jokubaitis fora do EuroBasket
Rokas Jokubaitis, um dos grandes destaques da fase de grupos (17,3 pontos e 8,5 assistências de média), sofreu uma lesão ligamentar no joelho esquerdo durante a vitória frente à Finlândia. O base ficará afastado dos campos por pelo menos seis meses e iniciará tratamento em Munique, acompanhado pelo Bayern e pela federação lituana. Segundo melhor passador da prova, apenas atrás de Luka Dončić, a sua ausência é um golpe duro nas ambições da Lituânia para a fase a eliminar.🇧🇦 Bósnia e Herzegovina surpreende e derruba invencibilidade da Grécia
A equipa bósnia mantém vivas as esperanças de chegar aos oitavos-de-final após uma vitória suada (80-77) frente a uma Grécia já qualificada, mas sem Giannis Antetokounmpo. Jusuf Nurkić brilhou com 18 pontos e 10 ressaltos, bem apoiado por John Roberson (18 pontos) e Edin Atić (15 pontos, 8 ressaltos). A Grécia, liderada por Kostas Sloukas (15 pontos, 8 assistências), sofreu com 17 turnovers e a eficácia da linha de três da Bósnia (11 triplos convertidos).