🏀 “Destino: Riga” – Vitória histórica, pés no chão
Portugal bateu a Espanha pela primeira vez na história e lançou da melhor forma a preparação para o EuroBasket. Neemias Queta voltou a jogar pela seleção, mas Mário Gomes travou a euforia.
“Destino: Riga” é o diário de bordo da seleção portuguesa rumo ao EuroBasket 2025: treinos, decisões, jogos de preparação e muito mais, sempre com olhos atentos ao que se passa nas outras seleções. No final de cada edição, telegramas curtos com os principais destaques da atualidade. A missão é clara: contar tudo sobre o EuroBasket 2025.
🇵🇹 Vitória sobre campeã da Europa abre preparação
Portugal venceu a Espanha. Sim, essa Espanha — campeã europeia em título, quinta do ranking mundial, com Sergio Scariolo no banco. Pela primeira vez na história, a Seleção Nacional masculina bateu os nossos vizinhos do topo do basquetebol europeu: 76-74, esta terça-feira, em Málaga. Uma exibição que abre da melhor forma a série de jogos de preparação para o EuroBasket 2025.
O jogo parecia seguir o guião mais previsível: domínio espanhol desde cedo, com triplos fáceis, defesa sufocante e uma vantagem que chegou aos 17 pontos (34-17). Ao intervalo, o marcador apontava 44-31 para os campeões europeus.
Mas os “Linces” reagiram. A segunda parte foi um manifesto de crença, com parcial de 28-18 no terceiro quarto, agressividade defensiva e domínio nas tabelas. Rafael Lisboa empatou com um triplo longo (59-59), Travante Williams picou-se com Juancho Hernangómez e respondeu com pontos e energia na defesa. E Neemias Queta apareceu quando mais importava.
O poste dos Boston Celtics começou no banco, mas foi ganhando minutos e protagonismo, até ajudar a decidir o encontro. A 3.8 segundos do fim, afundou para selar o resultado. Terminou com 17 pontos, 9 ressaltos (5 ofensivos), 3 assistências, 2 roubos de bola e 28 de valorização.
Sem o capitão Miguel Queiroz, ainda a recuperar da lesão no ombro sofrida na final da Liga Betclic, Portugal utilizou os restantes 13 convocados e contou com contributos decisivos de Travante (14 pontos, 2 ressaltos, 5 assistências, 4 roubos), Francisco Amarante (11 pontos, 7 ressaltos, 1 assistência) e Vladyslav Voytso (10 pontos).
Mário Gomes: “Não é uma façanha do outro mundo”
No final da partida, o selecionador nacional recusou euforias. No rescaldo do triunfo sobre a campeã europeia em título, Mário Gomes elogiou a resposta dos seus jogadores, destacou a importância do equilíbrio emocional e sublinhou que o mais difícil ainda está por fazer.
“Só é pena não ter sido num jogo oficial. Mas é sempre melhor trabalhar em cima de vitórias do que de derrotas. Estou muito satisfeito com a equipa, fundamentalmente por ter demonstrado capacidade para reagir depois de ter começado encolhida, receosa, mas conseguimos ir à luta. Independentemente do resultado — ganhámos por dois, podíamos ter perdido —, o mais importante não era ganhar. Este jogo mostra que temos capacidade para competir a este nível.”
Apesar do peso simbólico do resultado, o selecionador fez questão de colocar o jogo no seu devido contexto: uma partida de preparação, com ambas as equipas longe da melhor forma.
“Temos de ter noção do que fizemos bem e do que fizemos menos bem. Preocupar-nos com as nossas coisas — como repito muitas vezes — e saber que temos capacidade para estar nestes palcos. Este foi um jogo de preparação. Ambas as equipas estão fora de forma. Talvez isso se tenha notado mais na Espanha do que em nós, não sei. Amanhã temos de continuar a ser iguais a nós próprios, mas com mais convicção de que podemos lutar pelos nossos objetivos.”
A mensagem para o balneário é clara: manter os pés bem assentes no chão.
“É como digo: equilíbrio, cabeça no sítio, continuar a trabalhar, manter a humildade e não embandeirar em arco por termos ganho à Espanha. Fizemos uma coisa que não é normal, mas também não é uma façanha do outro mundo. Em Portugal há sempre a tendência de dizer que se fez história quando se ganha um jogo importante. Eu não acho que tenhamos feito história. Fizemos um bom jogo, conseguimos um resultado importante, mas a maior parte do caminho ainda está por fazer. Só agora o começámos.”
Questionado sobre o impacto de Neemias Queta, que se estreou este verão após cirurgia ao joelho, o técnico admitiu que o poste dos Celtics teve influência, não apenas no jogo, mas na confiança do grupo.
“Não sabemos como seria o jogo se o Neemias não tivesse jogado. Agora, que foi uma ajuda, claro que foi. Aumenta a autoconfiança do grupo. O grupo acredita mais na sua capacidade com a presença dele e isso é muito importante na alta competição. Durante o jogo, especialmente na parte final, o Neemias foi muito importante.”
Portugal volta a jogar esta quinta-feira (7 de agosto) frente à Espanha B, novamente em Málaga, antes de seguir para Madrid, Braga e, por fim, Riga — onde começará a caminhada no EuroBasket 2025, a 27 de agosto, frente à Chéquia.
📒 Caderno de apontamentos
Foi o regresso de Neemias Queta à Seleção A, três anos depois, e o reencontro teve camadas. Jogou menos de 20 minutos (19’17”), ainda em fase de recuperação da artroscopia ao joelho esquerdo, mas deixou marca evidente: impacto defensivo, referência ofensiva, domínio das tabelas e presença emocional.
Curiosamente (ou não), brilhou ao lado de três jogadores com quem partilhou o Europeu de Sub20 em 2019 — Rafael Lisboa, Vladyslav Voytso e Francisco Amarante — precisamente o torneio em que sofreu a lesão que estará na origem dos problemas que o levaram agora à cirurgia.
Esse quarteto, que venceu a Divisão B há seis anos, voltou a coincidir em campo. E a química está lá. Tal como está com Diogo Brito, ex-colega de Utah State, ou com Travante Williams, o outro pilar do grupo. Travante jogou 24’40” e Brito 24’14”, os dois mais utilizados, seguidos de Voytso (21’06”), que voltou a provar ser uma das armas mais fiáveis da linha exterior.
O plano de rotação foi inteligente e repartido: todos os jogadores, com exceção de Miguel Queiroz, entraram em campo. Três notas de fundo em relação ao possível corte final dos 14 atuais para os 12 finais:
• Ricardo Monteiro foi o último poste a ser lançado, jogando apenas 4’42”;
• Diogo Gameiro foi o último base a entrar em campo, ainda assim com mais tempo de jogo (5’18”) do que Anthony da Silva (2’04”);
• Nuno Sá foi o último extremo a ser utilizado, mas teve minutos relevantes (9’53”).
A gestão de minutos foi equilibrada, mas deixou pistas: todos os restantes atletas superaram os 14 minutos de utilização. Neemias, mesmo com poucos treinos e em contenção física, fez uma sequência de 8’41” consecutivos no arranque do terceiro quarto — o período da viragem. Jogou quando mais importava.
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