🏀 “Destino: Riga” – Como integrar Neemias?
Philippe da Silva, treinador português que esteve nos EuroBasket de 2007 e 2011, explica o que muda com a chegada de Neemias Queta à Seleção Nacional.
“Destino: Riga” é o diário de bordo da seleção portuguesa rumo ao EuroBasket 2025: treinos, decisões, jogos de preparação e muito mais, sempre com olhos atentos ao que se passa nas outras seleções. No final de cada edição, telegramas curtos com os principais destaques da atualidade. A missão é clara: contar tudo sobre o EuroBasket 2025.
🧠 Philippe da Silva: “O Neemias vai perceber o que significa ser o poste titular”
A chegada de Neemias Queta muda a Seleção Nacional: no plano ofensivo, na estrutura defensiva e, sobretudo, na forma como Portugal se pode apresentar frente à elite europeia. Mas a complexidade de integrar um poste com estas características, tão perto do EuroBasket, não assusta. Em entrevista exclusiva ao Borracha Laranja, o treinador Philippe da Silva — elemento das equipas das quinas que marcaram presença nas fases finais dos Europeus de 2007 e 2011 — preferiu destacar o que já está enraizado.
“Ele traz virtudes que mudam muita coisa. Mas também acho que não será assim tão difícil. O Neemias já jogou com o Diogo Brito, com o Rafael Lisboa, com o Francisco Amarante, e outros… há hábitos que regressam depressa.E ele é um jogador que não procura protagonismo. Tem essa humildade, essa inteligência. Vê-se em Boston: integra-se no grupo, não se impõe. Isso facilita o trabalho do treinador.”
A grande adaptação, diz o técnico dos franceses do Saint-Quentin, estará do lado defensivo. Na NBA, Neemias habituou-se a jogar num sistema conservador em que recua para proteger o cesto nos bloqueios diretos. Mas no contexto FIBA, o jogo muda. Ainda assim, Philippe vê nele mais do que um jogador de contenção.
“O maior desafio será defensivo. Ele vem de um contexto onde se joga muito em drop profundo. Na NBA, o Rudy Gobert é o melhor defensor, mas na FIBA tem dificuldades porque o jogo muda, o spacing muda, o tipo de bloqueio muda. O Neemias tem capacidade para trocar, para ser mais agressivo. Tem atleticismo e mobilidade. Mas tudo vai depender do tempo que há para treinar. Com a chegada dele, o tempo útil para implementar variações defensivas diminui. A equipa técnica — o Mário Gomes, o Sérgio Ramos e o Nuno Manarte — vai encontrar a melhor solução. Mesmo que se tenha de simplificar, o importante é garantir que a equipa esteja coesa.”
O EuroBasket pode ser mais do que uma montra para Neemias. Pode ser um laboratório, onde aprenderá a lidar com um novo estatuto.
“Quando vens do banco, entras com mais energia, mais ímpeto… e às vezes cometes faltas por excesso de vontade. Agora o Neemias vai ser uma referência, vai ter de se controlar mais, ser mais inteligente na forma como usa o corpo. Esta experiência vai ajudá-lo muito a gerir melhor as faltas, a lidar com esse novo papel. Vai perceber melhor o que significa ser o poste titular — na seleção de Portugal e, quem sabe, já este ano na NBA.”
Com maior protagonismo, virá também maior exposição. O técnico reconhece que os adversários vão tentar explorar isso, mas acredita no coletivo.
“Quando jogas contra jogadores como ele, tentas atacá-los no bloqueio direto, explorar a mobilidade. Mas o coletivo pode ajudar a disfarçar isso. Mesmo que o Neemias cometa duas faltas rápidas, esta equipa está habituada a jogar sem ele. Vai haver muito trabalho de scouting antes e ajustes durante os jogos.
Mesmo com pouco tempo e muitas dúvidas, Philippe da Silva tem uma certeza: “É melhor estar ali, no calor da competição, do que a ver tudo do sofá”.
Neemias Queta: “Estou quase a 100%”
Num raro domingo de folga da Seleção Nacional, Neemias Queta esteve de regresso ao Barreiro. Foi homenageado na inauguração do polidesportivo da cidade onde deu os primeiros passos no basquetebol, lado a lado com Nuno Belchior, antigo campeão mundial por Portugal em futebol de praia. No final do evento, falou aos jornalistas sobre a artroscopia ao joelho esquerdo realizada em maio, em Boston.
“Já estou a sentir-me quase a 100%, praticamente. É uma questão de voltar a ganhar o ritmo, jogar cinco para cinco e tirar um pouco de bloqueio mental, que até agora não senti. É nem sequer pensar que foi uma cirurgia, já passou, sinto-me confiante, bastante confortável e agora é questão de voltar a ganhar força e ritmo em campo”
Quase três anos depois do último jogo pela Seleção, Neemias soma apenas duas internacionalizações pela equipa principal, consequência da incompatibilidade entre as janelas FIBA e o calendário da NBA. Agora, no EuroBasket, não quer ser apenas o foco das atenções. Quer contribuir, sim, mas como parte de um coletivo que acredita estar preparado para competir.
“Acho que até pode ser bom [ser um alvo dos adversários], porque é uma questão de se jogar basquetebol e sabemos como é: pode-se retirar, na teoria, o melhor jogador dentro de campo e aparece um sexto ou sétimo homem que pode marcar 20 ou 30 pontos num jogo e ganhamos. É aproveitar as vantagens e desvantagens e aproveitá-lo para ser melhor jogador. (…) Acho que temos bastantes peças com o Miguel Queiroz, um dos veteranos a jogar no poste alto, depois o Travante (Williams), o Diogo (Brito), o Rafael (Lisboa), o (Diogo) Ventura... temos muitos jogadores que sabem assumir quando o momento chega. Acho que vamos ter bom equilíbrio, temos um bom misto de tudo — é um prato, como se diz: temos proteína, vegetais, carnes… temos tudo.”
Miguel Queiroz: “Pensar nos que estão”
A lesão de Gonçalo Delgado foi um dos primeiros abanões do estágio. A chegada tardia de Neemias Queta, outro. Mas no fecho da primeira fase de preparação, Miguel Queiroz mostrou serenidade de quem já viu de tudo nesta Seleção. Em entrevista à Agência Lusa, o capitão fez um balanço positivo das duas semanas iniciais de trabalho.
“As coisas correram muito bem, apesar de alguns contratempos, nomeadamente a lesão do Gonçalo Delgado e o facto de o Neemias só ter chegado ontem (sexta-feira). Excluindo isso, foram duas semanas muito boas de trabalho. A equipa reage muito bem a estas situações. São momentos infelizes, quando há lesões, mas sabemos que são coisas que fazem parte do nosso trabalho. Temos de estar sempre preparados para dar um passo em frente quando estas coisas acontecem. Quando estamos preparados, tudo corre bem. É pensar nos que estão.”
A Seleção Nacional viajou esta segunda-feira para Espanha, onde inicia a segunda fase da preparação. Em Málaga, vai defrontar a campeã europeia em título (terça-feira, dia 5) e a seleção secundária espanhola (quinta-feira, dia 7), antes de medir forças com a Argentina, em Madrid, a 10 de agosto.
Apesar do grau de exigência que se aproxima, Queiroz garante que os sinais até agora são positivos e que a chegada de Neemias Queta foi tudo menos disruptiva.
“A integração do Neemias foi muito tranquila. Ele já tinha estado conosco numa janela de apuramento (em agosto de 2022) e voltou a ser muito bem recebido. Entrou muito bem no grupo, como se estivesse cá desde o início da preparação. (…) Os treinos que fizemos dizem-me que estamos preparados, mas sabemos que vamos enfrentar um adversário muito difícil, que está nos primeiros lugares do ranking mundial.”
Depois, o grupo regressa a Portugal para disputar o Torneio Internacional de Braga, com jogos frente à Islândia (15 de agosto) e à Suécia (16). A preparação termina a 21 de agosto, em Sines, com um último teste diante da equipa do Sporting — três dias antes do embarque para a Letónia.
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