🏀 “Destino: Riga” – Decisão adiada
Portugal sucumbiu ao melhor jogo exterior da Letónia no torneio, mas segue em prova: o duelo com a Estónia será tudo ou nada pelo apuramento histórico.
“Destino: Riga” é o diário de bordo da seleção portuguesa rumo ao EuroBasket 2025: treinos, jogos e bastidores, sempre com olhos postos também no que acontece nas outras seleções. No final de cada edição, telegramas curtos com os principais destaques da atualidade. A missão é clara: contar tudo sobre o EuroBasket 2025.
🇵🇹 Sem antídoto para o poder de fogo letão
Portugal perdeu diante da anfitriã Letónia (62-78) e adiou para quarta-feira, frente à Estónia, a decisão do apuramento para os oitavos-de-final do EuroBasket. Num ambiente de eliminatória antecipada, perante mais de 11 mil adeptos na Arena Riga, a equipa da casa encontrou finalmente a inspiração que lhe tem faltado no tiro exterior e confirmou a presença na fase a eliminar.
Kristaps Porziņģis, que chegava ao encontro sem qualquer triplo convertido no torneio (0/13), desbloqueou a mão logo no arranque. Depois de ver a primeira tentativa cair, sorriu para o público e não mais parou: cinco triplos na primeira parte, e uma linha estatística de 21 pontos, 9 ressaltos e 3 assistências em apenas 26 minutos. A sua eficácia abriu caminho para um parcial de 27-7 no segundo período que deixou Portugal sem resposta.
Do lado português, Neemias Queta (16 PTS, 7 REB, 1 AST, 1 BLK) voltou a ser a referência, ainda que resguardado no último quarto por gestão de esforço. Rafael Lisboa destacou-se no perímetro (17 PTS, 2 REB, 4 AST), enquanto Cândido Sá saiu do banco com impacto (8 PTS, 5 REB, 1 STL). Travante Williams tentou impor-se, mas cedo acumulou faltas e acabou excluído após duas técnicas, num jogo em que nunca encontrou consistência.
A noite ficou também marcada pela 125.ª internacionalização de Miguel Queiroz, símbolo maior de longevidade da Seleção. Mas a festa foi letã, mesmo com más notícias: Andrejs Gražulis assistiu ao jogo de muletas, Artūrs Žagars saiu lesionado ainda no primeiro período e Kristers Zoriks abandonou no minuto final com um problema no tornozelo.
Nos números, a diferença foi clara: Portugal ficou-se pelos 34.3% de eficácia de campo e 28% nos triplos, enquanto a Letónia disparou 41.4% de lançamentos e 35% da linha de três, depois de três jogos abaixo dos 31%. O coletivo báltico somou ainda 14 assistências em 17 cestos só na primeira parte, reflexo de um ataque fluido e imparável.
Com este resultado, Portugal caiu para 1-3 no Grupo A e ficou sem margem de manobra. Tudo se decide frente à Estónia, igualmente com 1-3, num jogo que é uma autêntica final: quem vencer garante um lugar histórico nos oitavos-de-final, quem perder regressa a casa.
Rafael Lisboa: “Vamos estar preparados”
O base reconheceu as falhas defensivas na primeira parte, destacou a resposta da equipa e assegurou que a equipa das quinas estará preparada para o tudo ou nada frente à Estónia.
“Não defendemos bem na primeira parte, deixámos a Letónia ganhar confiança no lançamento. Quando jogadores deste nível marcam os primeiros, os segundos, o cesto começa a parecer cada vez maior e depois é muito difícil travá-los. Na segunda parte tentámos, lutámos até ao fim. Jogámos melhor no último quarto e aquilo que podemos dizer é que a equipa de Portugal que jogou esse último período é a equipa que vai aparecer no próximo jogo. Porque para nós é tudo ou nada. Vamos estar lá com todo o esforço e vamos jogar o melhor basquetebol possível.”
“Se nos dissessem antes do EuroBasket que íamos chegar ao último jogo com hipóteses de passar, aceitávamos logo. Até agora não há nada a temer. Temos de aprender com os erros, rever vídeo e tentar ser melhores. Agora só temos mais uma final e vamos jogá-la com todo o coração. Sabemos das armas deles, eles sabem das nossas e acho que vai ser um bom jogo. É uma final para as duas equipas, por isso vai haver, se calhar, algum nervosismo, alguma ansiedade de querer ganhar, mas penso que vai ser um bom jogo e vamos estar preparados para ganhar, com certeza.”
Miguel Queiroz: “Segundo período fatal”
No dia da sua 125.ª internacionalização, o capitão não escondeu a frustração pelo colapso luso no segundo quarto, mas preferiu valorizar a reação coletiva após o regresso dos balneários.
“Foi um segundo período fatal para nós. Fizemos um bom primeiro período, em que competimos, fizemos uma segunda parte boa, muito boa, mas, infelizmente, no segundo período não conseguimos estar ao nosso nível, ao nível que queríamos estar. Mas, fica, mais uma vez, a resposta da equipa. Entrámos bem na partida, veio um mau momento, que é o segundo período, e reagimos na segunda parte. E é a isso que eu me quero agarrar, à reação que a equipa teve na segunda parte.”
“No jogo anterior não conseguimos reagir e neste já conseguimos, portanto que essa reação nos permita entrar nesse jogo ainda mais confiantes e com a noção que é uma final para ganhar e atingir o nosso objetivo, que é o que queremos. É uma final para nós e para eles. Quem ganhar, passa, quem perder, vai para casa. Vai ser um jogo difícil para nós e vai ser um jogo difícil para eles. Acredito muito que esta equipa merece avançar na competição. Eles, provavelmente, também acreditam que merecem, pelo que vai ser uma final e as finais não se jogam, ganham-se.”
Vladyslav Voytso: “100% focados no jogo com a Estónia”
O extremo considerou que o resultado diante da Letónia foi enganador e garantiu que a equipa estará mais forte e concentrada para o duelo decisivo da última jornada.
“Se quisermos avançar na competição, não nos resta outra alternativa do que ganhar à Estónia e é esse o nosso objetivo. Portanto, 100% focados no jogo com a Estónia. O jogo de hoje foi o culminar de muitas coisas positivas que eles fizeram e nós algumas menos boas. No final, sinto que o resultado é um bocado enganador, porque nós podíamos ter encurtado mais a diferença no final. É uma competição com uma fase de grupos longa, com seis equipas, e em todos os jogos tentamos melhorar. Não tem sido o nosso caso, mas a competição ainda não acabou e queremos avançar. E 100% de certeza que para a Estónia vamos estar melhor do que nos dois últimos jogos.”
Mário Gomes: “Vamos lutar até ao último minuto”
O selecionador nacional recordou o objetivo com que Portugal chegou a Riga e sublinhou que a equipa continua viva na luta pelo apuramento. Mário Gomes assumiu as fragilidades da primeira parte, elogiou a melhoria defensiva após o intervalo e relativizou o peso da derrota.
“Antes de falar do jogo queria deixar uma declaração. Viemos com um objetivo específico: tentar qualificar-nos para a segunda fase. E uma coisa sabemos: vamos lutar até ao último jogo, até ao último minuto do último jogo, por esse objetivo. Continuamos vivos.”
“Fizemos uma primeira parte muito má, sobretudo a defender a bola. Permitimos lançamentos e, mesmo enquadrados, não atacámos a bola. Como costumo dizer: defendemos com os olhos e com os olhos não se defende. E, nessa altura, a Letónia marcou todos os lançamentos. Isso abriu uma diferença e, depois, é muito difícil jogar contra uma equipa que é mais forte do que nós, porque essa é outra questão que é bom ter em conta. Sei que o ranking não joga, ninguém vai para dentro do campo com um cartaz a dizer qual é o ranking em que jogamos, mas é um facto que jogámos fora contra uma equipa que é a número nove do mundo e nós somos a 56. Isto não justifica nada, mas é uma realidade. Além disso, tivemos uma percentagem péssima ao intervalo: 40% de lançamentos de 2 pontos e 15% de 3 pontos. Com estes números não é possível ganhar a este nível. Na segunda parte conseguimos mudar alguma coisa, especialmente na defesa. Marcámos alguns lançamentos mais abertos — não com uma boa percentagem, mas melhor. Sobretudo, colocámos muitos mais problemas à Letónia no ataque. Jogámos uma defesa bem melhor, que normalmente é um dos nossos pontos fortes. O resultado nunca é bom quando se perde, mas sabíamos desde o início que, independentemente deste jogo, tudo se decidiria na quarta-feira.”
Kristaps Porziņģis: “Entrámos muito fortes”
A estrela da Letónia regressou ao protagonismo com uma exibição decisiva no triunfo sobre Portugal. Porziņģis fez questão de deixar elogios ao antigo colega Neemias Queta.
“Foi um bom jogo. Entrámos muito fortes ofensivamente, com muitos lançamentos exteriores, e no segundo período (27-7) conseguimos a margem que procurávamos. À medida que o jogo avançou podíamos ter estado mais concentrados, mas no geral foi uma boa vitória, com grande apoio dos nossos adeptos. Adorei jogar aqui. Senti-me bem. Não foi perfeito, mas já de manhã sentia que o meu lançamento estava a fluir melhor. Estamos numa trajetória ascendente e isso é o mais importante.”
“Neemias titular nos Boston Celtics? Boa pergunta. Quem mais está lá? Sinceramente, não pensei muito no plantel deles. Mas o que posso dizer é que o Neemy tem melhorado a cada ano. O coach Mazzulla tem sido bastante exigente com ele, e acredito que está a chegar a um ponto em que merece minutos reais, minutos de rotação. Ele tem trabalhado muito e isso vê-se agora, pela forma como está a jogar neste torneio. Estou feliz por ele. É uma pessoa muito porreira, que se esforça, que trabalha. Vou ficar contente se o vir a ter muito mais minutos esta época.”
Luca Banchi: “Vitória importante”
O selecionador letão ficou satisfeito com a consistência da sua equipa nos dois primeiros períodos e explicou que a Letónia encontrou contra Portugal o equilíbrio ofensivo que procurava.
“Foi uma vitória importante. Ambas as equipas gastaram toda a energia num jogo que, de certa forma, era de eliminação, porque depois da vitória de ontem provavelmente Turquia e Sérvia vão disputar o 1.º e o 2.º lugar, e fica em aberto a luta pelo 3.º e 4.º. O nível é bastante equilibrado e era exatamente o tipo de jogo que esperávamos. A nossa abordagem foi boa. Fizemos um primeiro e segundo períodos muito sólidos e ficámos satisfeitos com a diferença pontual. Claro que ficámos um pouco desapontados com as lesões que sofremos neste jogo.”
“Já nos jogos de preparação e nos três primeiros encontros do EuroBasket ficou claro que somos uma equipa que lança mais triplos do que lançamentos de dois pontos. O importante é a qualidade do lançamento, a forma como o geramos. Temos jogadores como o KP (Kristaps Porziņģis) ou o Dāvis (Bertāns) que conseguem marcar lançamentos de “outro planeta”. Isso está ligado ao nosso estilo de jogo e às características do plantel. Esta noite talvez tenhamos lançado mais por termos cometido menos turnovers e jogado num ritmo mais elevado. Portugal também nos proporcionou mais posses. Mas se olharem para as estatísticas verão que todas as noites temos mais triplos do que lançamentos de dois.”
🇷🇸 Sérvia impõe lei das torres
A Sérvia manteve-se invicta no EuroBasket ao derrotar a Chéquia por 82-60, explorando a sua superioridade física no jogo interior (52-20 em pontos no pintado) e confirmando a eliminação dos checos, primeiros a despedirem-se do Grupo A. Svetislav Pešić apostou em formações grandes, chegando a alinhar Nikola Jokić, Nikola Jović e Nikola Milutinov em simultâneo, uma combinação impossível de travar para o adversário. Com 4-0, a Sérvia prepara agora o duelo decisivo com a Turquia pela liderança do grupo.
Entretanto, a Sérvia recebeu uma notícia amarga: Bogdan Bogdanović não volta a jogar no torneio, depois da lesão na coxa sofrida no jogo diante de Portugal. O capitão sérvio, peça central da seleção desde 2013, regressa já a Los Angeles para iniciar a recuperação junto dos Clippers. Aos 33 anos, “BogBog” deixa a competição após apenas dois jogos, privando Jokić e companhia da sua principal referência exterior. A braçadeira passa para Stefan Jović.
🇹🇷 Turquia confirma embalo histórico
A Turquia voltou a mostrar músculo em Riga, batendo a Estónia por 84-64 e alcançando quatro vitórias consecutivas numa mesma edição de EuroBasket pela primeira vez desde 2009. Já com a qualificação assegurada, a equipa de Ergin Ataman não tirou o pé do acelerador: abriu 12 pontos de vantagem logo no primeiro período e nunca mais perdeu o controlo do marcador. Alperen Şengün voltou a ser a referência absoluta, com 21 pontos, 8 ressaltos e 5 assistências, tornando-se o primeiro jogador em 30 anos a registar três jogos consecutivos com pelo menos 20-5-5.
A Estónia ainda ensaiou uma reação no arranque do último quarto, com três triplos consecutivos que fizeram vibrar os muitos adeptos que viajaram até à capital letã, mas esbarrou na intimidação defensiva de Adem Bona, Şengün e Ömer Yurtseven. Com o 1-3, os estónios ficam obrigados a derrotar Portugal na derradeira jornada para manter o sonho do apuramento. A Turquia (4-0) terá pela frente a Sérvia, num jogo que vale a liderança do Grupo A e pode redesenhar as contas do EuroBasket.
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🇩🇪 Alemanha em modo rolo compressor
Exibição demolidora em Tampere: vitória por 120-57 frente à Grã-Bretanha, o maior triunfo alemão em EuroBasket desde 1969 e a maior diferença do século XXI. Tristan da Silva brilhou com 25 pontos (10/12 FG), bem acompanhado por Dennis Schröder (19 pts, 5 ast) e Franz Wagner (18 pts, 10 ast). Foi também o quarto jogo consecutivo da Alemanha a ultrapassar os 100 pontos. A liderança do Grupo B decide-se agora frente à Finlândia.🇱🇹 Lituânia resiste e carimba apuramento
A seleção báltica carimbou o apuramento para os oitavos com triunfo sobre a Finlândia (81-78), impondo a primeira derrota aos anfitriões em Tampere. Rokas Jokubaitis brilhou (16 pts, 9 ast), mas saiu lesionado no último período, deixando uma nota de apreensão. Tadas Sedekerskis selou o jogo com um triplo decisivo a 27 segundos do fim, enquanto Ažuolas Tubelis assinou um duplo-duplo histórico. Lauri Markkanen ficou limitado a 17 pontos, e a Finlândia caiu para 3-1.🇸🇮 Luka Magic faz história
Luka Dončić registou o quarto triplo-duplo desde 1995 em fases finais de EuroBasket: 26 pontos, 11 assistências e 10 ressaltos na vitória da Eslovénia sobre a Bélgica (86-69). O astro dos Los Angeles Lakers tornou-se também o mais jovem do século XXI a superar 400 pontos, 100 assistências e 100 ressaltos na competição, juntando-se a Goran Dragić e Jaka Lakovič no clube dos históricos eslovenos. Primeiro triunfo (1-2) para os campeões de 2017.🇬🇷 Giannis volta e Grécia domina
Regresso e massacre: Giannis Antetokounmpo assinou 27 pontos, 8 ressaltos, 4 assistências e 2 roubos de bola no triunfo da Grécia sobre a Geórgia (94-53). Depois de ter descansado frente a Chipre, o astro dos Milwaukee Bucks voltou para guiar os helénicos à terceira vitória consecutiva (3-0) e consequente apuramento para os oitavos-de-final. A Grécia somou ainda 28 assistências e 56% de eficácia da linha de três pontos, um retrato da superioridade exibida em Limassol.🇮🇱 Avdija derruba França
Israel surpreendeu em Katowice e entregou à França a primeira derrota no EuroBasket (82-69). Deni Avdija brilhou com 23 pontos, 8 ressaltos e 5 roubos, decisivo num último quarto em que os israelitas limitaram os gauleses a apenas 13 pontos. Yam Madar (17 pontos) também foi chave na reviravolta. Israel e França ficam agora empatados (2-1), num Grupo D que promete luta até ao fim.🇮🇹 Fontecchio de mão a ferver
Simone Fontecchio assinou a maior exibição individual de sempre de um italiano em fases finais de EuroBasket: 39 pontos na vitória sobre a Bósnia (96-79). Superou o recorde de Andrea Bargnani (36, em 2011) e fez da noite em Limassol um marco pessoal. O extremo acertou 13 em 20 lançamentos, incluindo 7 triplos, juntando ainda 8 ressaltos e 3 assistências. Itália segue com duas vitórias consecutivas (2-1), enquanto a Bósnia afundou-se para 1-2.