Uma janela para o futuro e as 5 melhores “Draft Classes” de sempre
Está concluído mais um draft da NBA e, como sempre, é um evento recheado de grandes emoções. Jovens que trabalharam durante anos finalmente alcançam os seus sonhos, rodeados da família, muitas vezes ainda mais emocionada do que eles. Fãs ficam em êxtase quando concordam com a escolha e arrancam cabelos da cabeça quando discordam. E este draft não foi diferente, ainda que não tenha havido qualquer surpresa na primeira escolha.
Desde o momento em que os Spurs descobriram que tinham ficado com a primeira pick que se sabia que esta iria para o prodígio francês. O que mais há a dizer sobre Victor Wembanyama que não tenha sido já dito ad nauseam? Sim, ele é tudo o que pintam dele – e mais ainda. É absurdamente alto, com uma wingspan ridícula, e usa esses atributos físicos para ser um terror defensivo – acima de tudo na proteção do garrafão, mas também em closeouts que fazem tremer qualquer lançador. No ataque, tem a fluidez de um base no corpo de um poste, com capacidade de atacar o cesto e converter lançamentos tanto de midrange como de três pontos. E, como se isso não bastasse, tudo indica que tem uma mentalidade competitiva sem par e uma maturidade invulgar para a sua idade. Sei que há muitos que não resistem a ser do contra só porque sim, mas não liguem a esses chatos. Têm a minha permissão para ficarem muito entusiasmados com o que está para vir deste miúdo.
Para além dos Spurs, várias outras equipas tiveram razões para sorrir na noite de quinta-feira. Gostei bastante das escolhas dos Rockets, primeiro ao irem buscar um base com enorme capacidade atlética em Amen Thompson e depois ao aproveitarem a queda surpreendente de Cam Whitmore para o apanhar na 20.ª posição – um feito impressionante, dado que Whitmore chegou a ser considerado para o Top 5. Numa dimensão menor, também apreciei o que os Mavericks fizeram: libertaram-se do mau contrato de Davis Bertans enviando-o para os Thunder e desceram da posição 10 para a 12, acabando por escolher o mesmo jogador que tinham em mira de qualquer forma, o poste Dereck Lively II.
No outro lado do espectro, como fã dos Orlando Magic, devo dizer que não adorei o que a minha equipa fez com a escolha 11. Com jogadores como Gradey Dick e Jordan Hawkins ainda disponíveis, Orlando surpreendeu tudo e todos ao escolher Jett Howard. Sim, é verdade que escolheram um shooter, como bem precisavam, mas, mesmo que Howard se revele melhor do que os outros dois, certamente os Magic poderiam ter feito um trade down e selecioná-lo mais tarde, amealhando mais alguns assets pelo caminho.
E, por fim, temos os Hornets que, apesar de terem um plantel ainda em construção, decidiram escolher Brandon Miller na 2.ª posição em vez do consensual Scoot Henderson. Um último “presente” envenenado da gestão danosa de Michael Jordan, claramente inspirada por uma conceção bizarra de que iria “encaixar” melhor com LaMelo Ball – o tipo de decisão que só faz sentido numa equipa muito mais adiantada no seu rebuild.
Essa escolha colocou os Portland Trail Blazers numa posição particularmente interessante. Damian Lillard já deu a entender que não quer “perder tempo” a ver jovens a crescer na liga e pretende atacar um título já. Será que os Blazers vão usar o “prémio” de Scoot Henderson para recrutar uma estrela mais veterana? Será que irão, no sentido inverso, trocar Lillard e iniciar o seu próprio rebuild? Ou tentarão fazer a coisa resultar com o plantel atual?
Tudo é possível agora que entrámos na fase de trocas da offseason, onde qualquer cenário está em aberto. Já vimos Beal rumar aos Suns, Porziņģis para os Celtics, Smart para os Grizzlies e Chris Paul para os Warriors. Já muito mudou na liga em pouco mais de uma semana e a “brincadeira” ainda mal começou. Agora só nos resta pegar nas pipocas e desfrutar do espetáculo.
Inspirado pelo buzz em torno deste draft, decidi olhar para as melhores draft classes de sempre, com uma regra: precisamos de algum tempo para avaliar carreiras, por isso só estavam elegíveis para esta lista os drafts de 2012 para trás.
1987 (David Robinson, Scottie Pippen, Kevin Johnson, Horace Grant, Reggie Miller)
Ponderei a class de 1998, com nomes como Dirk Nowitzki, Vince Carter e Paul Pierce, ou até 1970, com lendas como Pete Maravich, Dave Cowens, Bob Lanier e Nate Archibald, mas não resisti a este “cinco titular”: Kevin Johnson e Reggie Miller a bases, Scottie Pippen e Horace Grant a garantir defesa de elite e David Robinson como poste dominante. O obsessivo-compulsivo em mim não resiste à simetria de formar uma equipa coerente (e muito competitiva) só com jogadores do mesmo ano.
2009 (Blake Griffin, James Harden, Stephen Curry, DeMar DeRozan, Jrue Holiday)
Este ano é curioso porque inclui várias estrelas que atingiram picos incríveis mas também foram alvo de duras críticas. Com exceção de Jrue Holiday, muitos destes talentos foram acusados de não chegar a patamares ainda mais altos devido a deficiências defensivas. Ainda assim, entre Curry, Harden, Griffin e DeRozan, o poderio ofensivo é simplesmente ridículo – e capaz de fazer estragos de todas as formas possíveis.
2003 (LeBron James, Carmelo Anthony, Chris Bosh, Dwyane Wade, Boris Diaw)
Depois do Top 4, esta class perde bastante qualidade, o que a coloca aqui em 3.º lugar. Mas que Top 4… LeBron é um dos melhores de sempre, Wade é estranhamente subvalorizado, e Carmelo e Bosh só não estão mais alto no panteão devido a tropeções no fim de carreira – o Bosh por problemas de saúde, o Melo por pura teimosia em recusar qualquer esforço defensivo. Ainda assim, imaginem onde estaria esta class se Darko Miličić tivesse atingido o seu potencial.
1996 (Allen Iverson, Ray Allen, Kobe Bryant, Peja Stojaković, Steve Nash)
Nas primeiras escolhas deste draft tivemos muitos jogadores talentosos que nunca atingiram o que se esperava deles: Marcus Camby, Shareef Abdur-Rahim, Stephon Marbury ou Antoine Walker. Mas, quando este ano acertou… porra, se acertou. Iverson e Ray Allen são destaques óbvios no Top 5, mas depois, nas posições 13 e 15, surgem Kobe Bryant e, pouco depois, Steve Nash – que até conquistou mais MVPs do que Kobe. E por que menciono isto? Porque irrita o Shaquille O’Neal, e ele merece a alfinetada.
1984 (Hakeem Olajuwon, Michael Jordan, Sam Perkins, Charles Barkley, John Stockton)
É um cliché dizer que este é o melhor draft de sempre, mas que outra escolha poderia eu fazer? Mesmo retirando Jordan da equação, que coleção absurda de talentos. Olajuwon foi escolhido à frente de MJ e foi tão bom que basicamente nunca é descrito como erro. Barkley foi um jogador fenomenal, incomparável, e continua a destruir todas as expectativas fora de campo também. E, ali em baixo, na 16.ª pick, ainda encontramos John Stockton, que, não contente em liderar a liga em assistências, conseguiu também superar anos de experiência académica e prática dos melhores epidemiologistas do mundo com umas horas de pesquisa em sites manhosos. Rei.