🏀 Ricardo Vasconcelos: "Estamos contentes com o grupo final"
Selecionador nacional feminino faz o balanço da preparação para o Women's EuroBasket 2025: evolução táctica, sacrifício individual e a promessa de competir com as melhores da Europa.
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Em vésperas da estreia inédita de Portugal no Women’s EuroBasket 2025, o selecionador nacional Ricardo Vasconcelos traça, em exclusivo ao Borracha Laranja, um retrato completo do estágio até à convocatória final de 12 nomes. Do crescimento competitivo frente a potências como Espanha e Sérvia à gestão física e emocional do grupo, passando pelas limitações no jogo interior, o técnico mostra-se confiante na identidade e ambição da equipa, sem esquecer quem ficou de fora da lista definitiva.
Que balanço faz do estágio de preparação até agora, tanto no plano do trabalho desenvolvido nos treinos como na resposta dada em jogo frente a algumas das melhores selecções da Europa?
O balanço é, sem dúvida, positivo. Chegámos à concentração com algumas dúvidas, sobretudo relacionadas com lesões da Maria Kostourkova e da Laura Ferreira. O panorama da Maria era muito fechado e percebia-se que seria difícil recuperar. O da Laura era mais recuperável, ainda que soubéssemos que nunca estaria a 100%. Mas era, ainda assim, possível recuperá-la e o tempo deu-nos razão. Sabíamos que não poderíamos contar com elas para os primeiros jogos, mas após esses jogos, a Laura conseguiu integrar-se na equipa e a Maria não estava em condições de o fazer.
Jogámos dois jogos muito equilibrados com a Eslovénia e fomos muito equilibrados e competitivos. É verdade que a Eslovénia não jogou com a sua norte-americana naturalizada, mas ainda assim fizemos jogos muito positivos. Contra a Sérvia, no primeiro jogo fomos mais dominados, com mais dificuldades. Competimos, mas de forma menos consistente. Houve minutos bons e outros nem tanto. Perdemos por 14 pontos, portanto nunca estivemos fora da possibilidade de competir, mas não fomos consistentes nas decisões. A Sérvia obriga-te a jogar fora dos teus tempos e deixámo-nos precipitar, o que nos levou a cometer mais erros. No segundo dia, estivemos bastante melhor. É verdade que a Sérvia não jogou completa, mas dominámos o jogo todo, controlámos o ritmo e estivemos sempre na frente.
Depois de mais sete dias de treinos, aparecemos a fazer mais coisas - uma equipa mais completa, com crescimento evidente e real. Os quatro jogos anteriores deram-nos muitas ideias sobre o que melhorar, e conseguimos fazê-lo nesse período. Contra a Espanha, o jogo foi bastante equilibrado. A verdade é que os erros pagam-se caros a este nível. Não estivemos ao nível delas em alguns momentos, mas durante muito tempo jogámos de igual para igual, o que nos deixou satisfeitos e orgulhosos. Fizemos uma rotação mais curta na segunda parte para manter o jogo equilibrado e quisemos testar as jogadoras com mais responsabilidades na equipa. Contra a Suíça, que não jogou completa no primeiro jogo mas já o fez no segundo, dominámos sempre. Ficou claro que temos uma equipa cada vez mais completa, em que todas conseguem contribuir. É óbvio que há jogadoras com responsabilidade de três minutos e outras com 23 - já sabemos que é assim. Mas dentro dos papéis definidos, estivemos bastante bem. O adversário jogou praticamente sempre em desvantagem e isso confirmou que estávamos a fazer as coisas bem.
Ainda há detalhes a limar. Vamos aproveitar os vídeos e temos ainda um treino já em solo checo para traçar o plano de jogo contra a Bélgica, que será, obviamente, um jogo complicado.
A equipa está, nas diferentes áreas em que trabalharam - técnica, física, táctica, mental - ao nível que idealizavam para este momento?
Do ponto de vista técnico-táctico, conseguimos chegar a quase todos os aspectos. A defesa ao bloqueio directo foi a parte que exigiu mais trabalho, pois precisávamos de mais do que uma estratégia. Fomos melhorando ao longo dos jogos nas várias estratégias aplicadas, e estivemos bem - técnica e tacticamente bem. Fisicamente, conseguimos gerir bem as cargas. O trabalho é denso e intenso, há uma grande diferença entre aquilo que queremos fazer e o que realmente conseguimos fazer, entre o volume de treinos desejado e o que é possível. Tivemos sete jogos, o que é muito bom, mas tivemos de ter cuidado na gestão física porque as jogadoras chegaram em momentos muito diferentes. Algumas acabaram a época no domingo e entraram logo em estágio nessa semana, outras estavam paradas há um mês e meio. Do ponto de vista mental, a motivação é top, mas a ansiedade também. Esse aspecto será mais evidente após o primeiro treino na Chéquia. Quanto mais perto estivermos da bola ao ar, mais a ansiedade vai subir e terá de ser controlada. Mas, em geral, estamos satisfeitos com os níveis técnicos, físicos, tácticos e até mentais da equipa. Com altos e baixos, mas bastante positivos.
Que desafios enfrentaram para definir o grupo final de 12 atletas? Como foi o equilíbrio entre ballhandlers, wings e bigs, tendo em conta a exigência de garantirem competitividade máxima nesta participação inédita?
A base de recrutamento é a que temos. Temos sempre alguma dificuldade nas posições interiores, porque não há assim tantas jogadoras com perfil de big. Trabalhámos muitas ideias de small ball, nessa ideia de preencher o campo com spacing de 4 fora e 1 dentro, ou até 5 fora. Muito five out, para espaçar o campo, criando movimento para gerar espaço. Conseguimos encontrar um equilíbrio interessante com jogadoras experientes que já vêm a crescer dentro desta ideia. As escolhas são sempre difíceis porque há jogadoras que continuam a melhorar, o que é bom. É um bom problema. É verdade que nas jogadoras grandes não temos a quantidade que gostaríamos para poder escolher e com a lesão da Maria Kostourkova, ainda menos. Temos várias jogadoras adaptadas para small ball, o que nos dá possibilidades de competir a este nível - com os seus prós e contras - mas, em geral, estamos contentes com o grupo final.
Aparentemente há um cinco base a ganhar consistência - Carolina Rodrigues, Márcia Costa, Maria João Bettencourt, Lavínia Silva e Sofia da Silva - mas o banco oferece boas soluções e versatilidade. A lesão e ausência da Maria Kostourkova mexeu com a rotação interior. A entrada da Carolina Cruz é uma resposta directa a essa necessidade?
Nas interiores, todos os problemas e lesões custam-nos muito. A Carolina é parecida com a Maria em centímetros, mas o estilo de jogo é muito diferente. São duas jogadoras que apresentam coisas distintas. A Carolina entrou para nos dar mais uma presença interior, mais centímetros, e uma solução defensiva adicional. Ofensivamente, as características da Carolina são muito diferentes das da Maria, por isso tivemos de nos adaptar. Mas percebemos logo no início do estágio que a situação da Maria era difícil, e procurámos as soluções possíveis. A Carolina tem crescido - como outras jogadoras - e o banco tem sido uma nota muito positiva, tanto nos treinos como nos jogos. A Carolina entra como jogadora de potencial, jovem (pelo menos na equipa sénior), e tem que assumir mais responsabilidades e ajudar o grupo a alargar. Se ela quiser trabalhar nesse sentido, tem todas as condições para ser uma jogadora a poder ajudar o grupo.
Depois de recuperar da lesão no pé esquerdo e de ter participado nos últimos jogos do estágio, como está a Laura Ferreira fisicamente?
A Laura nunca vai jogar a 100%. Não há hipótese de recuperação total. Mas mesmo condicionada, pode ajudar e dá-nos muitas coisas. Defensivamente, é muito correcta tacticamente, preenche bem os espaços, consegue defender vários tipos de jogadoras. Ofensivamente, tem capacidade de lançamento e uma experiência muito interessante a este nível. É uma jogadora muito competitiva, muito disciplinada tacticamente e é uma grande mais-valia para nós. É verdade que não vai estar a 100% do ponto de vista físico, mas ela é consciente da sua situação, e é uma ajuda grande para a nossa equipa.
Há alguma palavra especial que gostasse de deixar à Inês Ramos, à Raquel Laneiro e à Simone Costa, que ficaram de fora da convocatória final?
Agradecimento total à dedicação, profissionalismo e trabalho que a Inês, a Raquel e a Simone apresentaram. Foram incríveis. Foram sérias, fantásticas. Tudo o que venhamos a conseguir também se deve a elas. Não vão estar connosco no Campeonato da Europa, mas foram parte integrante deste trabalho. Se todas as colegas das nossas atletas ajudaram de forma indirecta, estas ajudaram directamente. E, por isso, estou profundamente grato.
Continuaram a trabalhar com seriedade, mesmo depois de terem sido informadas de que não seriam convocadas. Fomos falando com elas em várias etapas - algumas souberam mais cedo, outras mais tarde - mas nenhuma faltou com responsabilidade ou empenho. Portanto, a palavra é de agradecimento total.
São jogadoras com muitas possibilidades de continuar a trabalhar na equipa sénior e estarão sempre no radar da seleção nacional. Jogaram praticamente todos os jogos de preparação, com o intuito não só de poderem ser chamadas para este Europeu, mas também por todas as possibilidades que possam vir a ter com a seleção nos próximos apuramentos e nos próximos Europeus, que espero que Portugal venha a disputar.
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