Rafael Lisboa: "Estou a jogar o meu melhor basquetebol"
Base da Seleção Nacional foi eleito para o cinco ideal da jornada da Primera FEB, em Espanha, numa época em que tem um papel central no Ourense e regista eficiências de elite.
Rafael Lisboa foi eleito para o cinco ideal da 7.ª jornada da Primera FEB, o segundo escalão espanhol, depois de somar 28 pontos, 2 ressaltos, 2 assistências e 2 roubos de bola no triunfo do Ourense sobre o FC Cartagena (91-65), emblema que conta com Nuno Manarte como treinador adjunto.
A exibição foi marcada pela elevada eficácia do base da Seleção Nacional, que converteu 7/8 de dois pontos, 4/8 em triplos e 2/2 da linha de lance livre. E a eficácia é mesmo a imagem de marca de Lisboa neste arranque de 2025-26: em 6 jogos, soma médias de 15.8 pontos, 2.5 ressaltos, 2.8 assistências e 1.2 roubos de bola, com 56.8% de dois pontos, 45.2% nos triplos e 91.7% nos lances livres.
Em entrevista exclusiva ao Borracha Laranja, Rafael Lisboa sublinha que terminar a época no clube dos 50-40-90 não é um objetivo individual, mas admite que funciona como motivação.
“Ficar nos 50-40-90 é difícil e só para grandes lançadores, mas trabalho para ser capaz de marcar mais do que falho. Não penso muito nisso; é consequência do trabalho e, principalmente, da consistência do meu trabalho. Orgulho-me de, em dias bons ou maus, manter a rotina e trabalhar a confiança, a mentalidade e a forma como encaro as coisas. Se o meu jogo mostrar que sou um jogador dessas percentagens, perfeito. Estar bem agora não me faz mudar o que faria se não estivesse tão bem. Faço o que acredito que me dá consistência e tento continuar nessas percentagens e, sobretudo, a ganhar jogos, que é o mais importante.”
“Se funciona como motivação? Sim. Mas não gosto de colocar objetivos numéricos. Pode ser um pau de dois bicos: motiva, mas também te pode prender aos números e tirar foco a outras coisas. No fim de contas, no lançamento não controlo a 100% se a bola entra. Tento focar-me no que posso controlar. Gostava de fazer uma época com essas percentagens, claro, mas não penso nisso todos os dias. Deixo as coisas rolar: haverá dias em que vou marcar mais e outros menos, e é assim mesmo.”
Lisboa não é o primeiro português em destaque na Primera FEB. Na época passada, Diogo Brito e Francisco Amarante — colegas de Rafael na Seleção — foram eleitos MVP de uma jornada. Com um papel mais importante este ano em Ourense, o base diz que gostava de se juntar aos dois extremos como melhor jogador de uma ronda da segunda competição do país vizinho, e sublinha que o EuroBasket e a continuidade no mesmo clube ajudaram à boa forma deste início de temporada.
“MVP de uma jornada? Era bom. Se me perguntarem se é uma coisa em que penso todos os dias, não. Mas gostar, claro que gostava. Numa liga competitiva e boa, com os jogadores que temos aqui, ser MVP da jornada é um marco importante. Agora, não é isso que me tira o sono. Luto para jogar bem, ganhar e fazer o meu trabalho. Se der, deu; se não der, não deu.”
“O EuroBasket ajudou, claro. Jogar uma competição desse nível dá-me uma pré-época diferente de quem não foi. Curiosamente, nos dois primeiros jogos aqui não estive tão bem no lançamento, mas acertei nos últimos quatro. Em termos físicos ajudou, e o basquetebol também é muito de momentos. Este ano tenho um papel importante na equipa e não tenho problemas em assumi-lo. Gosto desse papel e deixa-me confortável.”
“Algumas coisas mudaram: alguns colegas e membros do staff mudaram, e até mudei de casa. Mas, no geral, a cidade é a mesma, o treinador é o mesmo, a estrutura é a mesma e a filosofia é a mesma. Isso ajudou muito. Se tivesse ido para um clube novo, o processo de adaptação seria mais longo. Aqui cheguei e integrei-me rapidamente na dinâmica da equipa.”
O jogo deste fim de semana teve a particularidade de contar com um adepto especial na bancada: o selecionador nacional Mário Gomes. Rafael Lisboa diz que a presença do timoneiro da equipa das quinas não muda a sua abordagem aos jogos e revela que, no final, Mário Gomes brincou pelo facto de, mesmo com a vitória no bolso, o base não ter abdicado de tentar um último lançamento.
“Para mim, não tem influência que o prof. Mário Gomes esteja na bancada. Conheço-o há vários anos e fico contente que me venha ver, mas durante o jogo foco-me no jogo, não em quem está na bancada. Não é por ele vir que tenho de jogar bem, nem é o fim do mundo se jogar mal. Fico feliz por ter calhado no dia em que ele veio. Estava lá também o Pinto Alberto (team manager da Seleção Nacional) e o Carlos Seixas, pai do Diogo (colega de equipa no Ourense). Havia mais malta portuguesa. Foi um dia bom.”
“No fim do jogo, o prof. estava a brincar comigo e com o Diogo Seixas. Disse que estava à espera que, na última bola, eu fosse procurar o Diogo para ele lançar e, no fim de contas, lancei eu. Teve de ser. Isso já está dentro de mim: se saio sozinho, a primeira coisa em que penso é no cesto.”
“Nunca escondi que quero jogar na ACB“
O sonho de Lisboa é chegar à Liga ACB, considerada por muitos o melhor campeonato da Europa, mas o base não confunde pressa com progresso. Vê o reconhecimento desta semana como um sinal positivo, mas sublinha que seis jogos não chegam para conclusões e que a consistência diária é o que conta. Quanto ao estado de forma, lê este início como o melhor registo da carreira e, mesmo assim, coloca a fasquia na continuidade do padrão que o trouxe até aqui.
“A época é muito longa e ainda vamos no início. É melhor começar assim do que começar mal, claro. Mas, para mim, isto valida sobretudo o processo: o plano de consistência que tenho seguido desde que saí do Benfica. Nunca escondi que quero jogar na ACB e isto é uma construção diária. O reconhecimento ajuda e valida, mas tento manter o objetivo no mesmo sítio, nem mais alto quando corre bem, nem mais baixo quando corre mal. Essa constância mental ajuda-me a estar tranquilo nos jogos. Se é um objetivo que tenho? É. Acredito que é possível. Mas é cedo para estar a pensar nisso com seis jogos de liga. Estou contente com o início, mas vou continuar com os pés assentes na terra e a fazer o meu caminho com calma. Se tiver de acontecer, acontecerá.”
“Melhor forma da minha carreira? Acho que sim. Estou a jogar o meu melhor basquetebol. Aqui em Espanha é o meu melhor início de época até agora. Finalmente estou a conseguir a consistência que sempre procurei. Venho também do momento mais marcante da minha carreira com a Seleção. Isto motiva-me para continuar.”
No horizonte imediato está a janela da Seleção Nacional, que volta a jogar ainda este mês para a primeira fase de qualificação para o Mundial de 2027. Portugal visita o Montenegro a 27 de novembro e, três dias depois, a 30, recebe a Grécia, em Matosinhos. Lisboa reconhece dificuldades e ausências, mas insiste na identidade competitiva e no objetivo de vencer.
“É sempre bom voltar a jogar pela Seleção. Primeiro voltar a Portugal, depois voltar a jogar por Portugal. Devemos ter ambição de ganhar, porque já mostramos que podemos competir. Não vai ser fácil para nós e também não será para eles. O objetivo é passar esta fase e, para isso, temos de ganhar jogos.
Já sabíamos que o Neemias (Queta) não pode vir. O Miguel Queiroz, infelizmente, também não poderá ajudar. Não sei quem vai ser convocado, mas o Gonçalo Delgado volta a estar apto, e o Anthony da Silva também está num momento muito bom e pronto para jogar. Já mostrámos que, quando parece difícil, é quando jogamos melhor e mostramos caráter. Isso pode ser suficiente para competir e para ganhar. Vamos estar lá com tudo e fazer o nosso melhor, sabendo que é complicado. O jogo com a Estónia foi um exemplo: em vários momentos das qualificações, quase não jogámos com o Neemias e, mesmo quando parecia perdido, fomos buscar o jogo. Nunca nos podem dar como derrotados. Vamos à luta.”




