đ Pedro BĂĄrtolo: âGostava de ser uma referĂȘncia para o universo portistaâ
Um dos capitães da Seleção Nacional de basquetebol em cadeira de rodas fala sobre a mudança do BC Gaia para o FC Porto, o dia-a-dia da secção e o impacto de um clube grande na modalidade.
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Pedro BĂĄrtolo acredita que o basquetebol em cadeira de rodas (BCR) pode finalmente ganhar palco grande em Portugal.
SubcapitĂŁo da Seleção Nacional, referĂȘncia do BC Gaia e agora reforço do FC Porto, o jogador vĂȘ no novo projecto dos dragĂ”es um ponto de viragem para a modalidade: mais profissionalismo, mais visibilidade e uma ambição que, atĂ© aqui, parecia inalcançåvel.
Em entrevista exclusiva ao Borracha Laranja, fala do peso de vestir de azul e branco, da forma como o clube quer estruturar o dia-a-dia da secção e do impacto que um emblema com o poder do FC Porto pode ter na atracção de novos adeptos e atletas.
Que balanço fazes desta transição do BC Gaia para o FC Porto?
Sem desprimor por quem me acolheu tĂŁo bem em Gaia, creio que esta mudança para o FC Porto era um passo mais ou menos natural para a afirmação da equipa de BCR, mas sobretudo da modalidade no seu todo. Conheço bem quem dirige o desporto adaptado no clube, a Joana Teixeira, que foi minha colega de mestrado, e partilhamos a mesma visĂŁo: o desporto adaptado tem de ser cada vez mais profissional, em igualdade de circunstĂąncias com o desporto convencional. Esse nĂvel de exigĂȘncia e de rigor que pauta o trabalho da secção de desporto adaptado do FC Porto Ă© algo que me atrai muito.
Confesso que, a nĂvel pessoal, era um ano em que estava muito inclinado, caso nĂŁo surgisse esta oportunidade, a jogar no estrangeiro novamente, atĂ© por algum acumular de desgaste e de sobrecarga na gestĂŁo de todo o clube em Gaia e, em particular, da equipa de BCR. Quando esta oportunidade surge no horizonte e hĂĄ uma postura clara por parte do FC Porto em proporcionar condiçÔes que alavanquem a equipa de BCR e a modalidade no seu todo para um patamar superior, foi algo que começou a ser abordado e estou bastante satisfeito por se ter concretizado.
O que muda concretamente em relação ao BC Gaia?
O desporto adaptado vive num contexto de enorme precariedade econĂłmica; todos os anos Ă© um desafio garantir a subsistĂȘncia dos projectos, e a prova disso mesmo estĂĄ nos inĂșmeros projectos de basquetebol em cadeira de rodas e de outras modalidades adaptadas que foram surgindo ao longo dos Ășltimos anos e cessaram a actividade seis meses, um ano, dois anos depois de terem nascido.
No FC Porto podemos pensar a modalidade a longo prazo, pensar em participaçÔes constantes em competiçÔes europeias, estar entre os melhores e contribuir para um desenvolvimento mais sustentåvel do BCR em Portugal. Além disso, o nome tem peso: o FC Porto é uma bandeira da cidade e é conhecido em todo o mundo. Pode facilitar a atracção de jovens para a modalidade, gerar mais interesse orgùnico e deixar de ser apenas um acompanhamento familiar de quem rodeia os atletas e as equipas.
O BCR tem grau de espectacularidade para cativar as pessoas como qualquer outro espectĂĄculo desportivo. De facto, estou muito esperançoso de que possa haver esse efeito de contĂĄgio para outras equipas do basquetebol nacional de craveira e que isso se repercuta nesse cimentar de credibilidade do basquetebol em cadeira de rodas como espectĂĄculo desportivo como qualquer outro, porque eu acho que Portugal continua refĂ©m desse paradigma exclusivo do desporto adaptado enquanto ferramenta de inclusĂŁo â e nĂŁo Ă© isso que leva as pessoas aos pavilhĂ”es, nĂŁo Ă© isso que leva as pessoas a quererem desfrutar de um programa desportivo num sĂĄbado ou domingo Ă tarde. Ă â isso sim â ver atletas, independentemente das suas caracterĂsticas ou do seu gĂ©nero. Esse salto jĂĄ acontece noutros paĂses europeus. Vem-me logo Ă cabeça a equipa de CantĂș, tambĂ©m uma cidade com tradição no basquetebol convencional, e que, no basquetebol em cadeira de rodas, tem uma mĂ©dia de assistĂȘncia aos jogos de novecentas a mil pessoas. Ă uma casa extremamente simpĂĄtica â tomara que nĂłs, nos nossos pavilhĂ”es, tivĂ©ssemos essa consistĂȘncia de adeptos no basquetebol convencional. Acho que esse Ă© o poder de um clube como o FC Porto.
Como vai funcionar o dia-a-dia da secção de BCR?
A carga de trabalho nĂŁo vai ser extremamente alta, mas serĂĄ significativa: trĂȘs treinos de pavilhĂŁo e dois de preparação fĂsica para a equipa de BCR no DragĂŁo Arena. Os treinos de BCR em pavilhĂŁo dificilmente serĂŁo lĂĄ, porque hĂĄ muitas equipas a usufruĂrem daquele espaço, mas hĂĄ uma preocupação que me agrada: que os jogos mais impactantes se disputem no DragĂŁo Arena. Ă o melhor cartĂŁo-de-visita para a modalidade, para os adeptos do FC Porto ou do basquetebol nacional.
Outro ponto essencial é a manutenção e o cuidado do material, dado que é uma modalidade com muitos materiais de desgaste råpido, como pneus, cùmaras de ar, raios e tudo isso. O clube quer garantir uma pessoa dedicada a essa função de forma mais permanente, e esse é mais um indicador que me faz olhar para este projecto com bons olhos.
O que significa para ti vestir de azul e branco?
Representar o FC Porto Ă© muito especial. Ă o meu clube do coração, tenho uma relação umbilical que vem da minha famĂlia paterna, que me semeou esse portismo sempre de forma muito eclĂ©ctica. Lembro-me bem do meu avĂŽ contar-me histĂłrias sobre o Dale Dover. Sempre fomos adeptos fiĂ©is, a apoiar todas as modalidades do clube e, naturalmente, o futebol, dada a expressĂŁo que acaba por ter. Para mim, Ă© marcante e espero poder ser um sĂmbolo do FC Porto que ultrapasse as algemas que, por vezes, se colocam ao desporto adaptado. Gostava muito de ser uma referĂȘncia para o universo portista, estar Ă altura de nomes como o Miguel Queiroz, capitĂŁo da equipa de basquetebol do FC Porto e da Seleção Nacional, que personifica o que Ă© âser FC Portoâ e Ă© uma figura muito agregadora no clube.
Pode ser â ou muito provavelmente serĂĄ â a minha Ășltima aventura enquanto jogador de BCR, assim o desejo. NĂŁo penso em retirar-me no prĂłximo ano ou daqui a dois ou trĂȘs; gostaria de conseguir manter-me a bom nĂvel mais algum tempo, tambĂ©m a pensar na Seleção Nacional e no que ainda lhe posso acrescentar enquanto me sentir bem. Mas sim, seria o corolĂĄrio perfeito para a minha carreira enquanto jogador.





