Vou repetir uma vez mais: a final perdida, na época de 2002/2003, no quinto jogo contra a Portugal Telecom, é um pesadelo que nenhuma criança, como eu, jamais esquecerá. E, para quem lê isto e não compreende este sentimento, basta lembrar a final do Euro 2004, em que Portugal perdeu contra a Grécia — até o mais desinteressado adepto de futebol sentiu tristeza. Pois bem, eu e a maioria dos Oliveirenses sentimos isso tudo, em anos seguidos.
Um palmo e meio de cidade encheu o Pavilhão Dr. Salvador Machado, como poucos pavilhões nacionais alguma vez viram. Um palmo e meio de cidade apoiou, gritou e lutou com a equipa, como poucos pavilhões nacionais alguma vez viram. Eu era um palmo e meio de gente no meio dessa multidão. E mesmo assim não foi suficiente. Nem os ténis oferecidos pelo José Lasa — o base espanhol da Oliveirense, com currículo no Real Madrid e que até jogava bem! — serviram de consolação.
Dessa final até hoje, a equipa sénior de basquetebol da Oliveirense passou por altos e baixos. Ainda conquistou uma Taça da Liga mas, poucos anos depois, extinguiu-se até 2009, ano em que recomeçou na CNB2. Nunca mais tinha disputado uma final do principal escalão do basquetebol nacional.
A equipa foi crescendo, ano após ano, vitória após vitória. Não posso falar por mim, porque não estava presente. Fui uma das “vítimas” da extinção da equipa profissional, obrigado a procurar o meu caminho noutras paragens — caminho esse chamado Ovarense, a quem agradeço por me ter formado, não só como jogador, mas principalmente como pessoa, com caráter.
Mas posso falar por todos os que viveram esses anos de reconstrução. Muitos são hoje grandes amigos, adeptos ou companheiros de equipa. Foram eles que me passaram o espírito de União que, para mim, foi fácil de compreender. Afinal, tinha regressado a casa.
Passados 15 anos, com o sacrifício de um palmo e meio de gente, a União Desportiva Oliveirense teve a quinta oportunidade de conquistar o primeiro título nacional da sua história. E, ironia do destino ou não, eu tive o privilégio de lutar por ele. O resto já vocês sabem.
Engraçado: uma ex-vizinha, com quem nunca falei na vida, procurou-me nas redes sociais e disse-me, passados todos estes anos, que tinham valido a pena todas as horas em que a bola de basket bateu contra a garagem quando eu era miúdo — quando perdia vezes sem conta contra o meu irmão, três anos mais novo (humilhante, João Barbosa!). Essa mensagem só confirmou o que eu já suspeitava: incomodávamos o prédio inteiro, horas a fio, logo de manhã. Tanto que ainda hoje sou confrontado com isso!
Não sei se o troféu tem palmo e meio. Sei apenas que continuo palmo e meio de gente, mas agora um palmo e meio bem mais realizado. E que Oliveira de Azeméis é hoje um palmo e meio de cidade mais feliz, orgulhosa e confiante.
Como alguém nos disse ao longo da época: “Nós somos do tamanho dos nossos sonhos”.
P.S.: Obrigado a todos os Oliveirenses, por nos fazerem sonhar de novo, por sonharem incansavelmente com toda a equipa e por nos ajudarem a concretizar este sonho.
por José Barbosa