Os “outros” Nuggets e 5 campeões que eram estreantes nas Finais
Enquanto os Miami Heat tentam evitar ser a primeira equipa a sofrer uma reviravolta depois de estarem a ganhar por 3-0 – os Boston Celtics tinham acabado de vencer dois jogos seguidos à data da escrita deste artigo –, gostaria de olhar mais uma vez para uma equipa que acabou de alcançar um feito histórico. Após “varrerem” os Los Angeles Lakers nas Finais de Conferência do Oeste, os Denver Nuggets chegaram às Finais pela primeira vez na história do franchise.
Na semana passada, dediquei o meu texto a elogiar o talento difícil de quantificar de Nikola Jokić que, deve ser dito, foi e é a principal razão para o sucesso continuado dos Nuggets nestes playoffs. É um jogador incrível e merece todos os elogios. Mas ele não joga sozinho – e seria o primeiro a dizê-lo. Por isso, quero centrar este texto no fantástico elenco secundário de Denver.
Para começar, Jamal Murray. Já noutro artigo escrevi isto, mas vale a pena repetir: Murray é um dos jogadores que mais se eleva nos playoffs em toda a História da NBA. A sua média de pontos na fase regular é 16,9. Nos playoffs? 25,4. Só nesta edição, leva 27,7 pontos de média, com uma mão cheia de cestos decisivos e exibições monstruosas. Se Jokić é o cérebro que faz a engrenagem mexer, Murray é o coração que lhe bombeia sangue.
Gostava também de destacar a evolução de Michael Porter Jr. nestes playoffs. Muitos dos seus pontos fortes continuam lá: usa bem a altura para contribuir nos ressaltos defensivos e lançar de triplo sem ser incomodado nos close-outs, criando a “gravidade” que abre as linhas de ataque que Jokić tanto gosta de explorar. Mas, noutros anos, Porter Jr. era tão mau defensivamente que era atacado em todos os pick-and-rolls. Isso mudou. MPJ está muito mais sólido nos movimentos laterais e, mesmo quando é batido em drives, usa os braços longos para contestar lançamentos.
Falando de defesa, não se pode ignorar os dois pilares do esquema dos Nuggets: Kentavious Caldwell-Pope, mais focado nos guards, e Aaron Gordon, mais virado para o frontcourt. Ambos dão o seu no ataque e são absolutamente cruciais na defesa, tanto na marcação individual como a tapar buracos nos desequilíbrios.
E, claro, toda equipa campeã precisa do seu fator X, o homem de rotação com energia inesgotável. O Joker fora do baralho – sim, foi de propósito. Em Denver, esse papel é de Bruce Brown. Agressivo a atacar o cesto, incansável a defender, sempre que os Nuggets ameaçam estagnar, Brown é quem os arranca do marasmo. Tem sido determinante no domínio de Denver nestes playoffs.
Seja qual for a equipa do Este que avance, os Nuggets partem como favoritos. E não tenho dúvidas de que Jokić – MVP das Finais de Conferência – seria o primeiro a dizer que nada disto teria acontecido sem o elenco que o rodeia. Bem como Michael Malone, que não só montou o sistema perfeito em torno da sua estrela como nunca perde uma oportunidade para lembrar que “ninguém acredita neles”. Está tudo nos detalhes.
Das 30 equipas da NBA, 25 já chegaram às Finais. Dessas, apenas 10 foram campeãs na estreia. Muitas dessas conquistas aconteceram nos anos 50, quando a liga ainda engatinhava e havia menos espaço para múltiplas presenças. Por isso, vamos olhar para campeões “estreantes” mais recentes e ver que lições poderão os Nuggets retirar:
Portland Trail Blazers (1977)
No rescaldo da fusão ABA–NBA, Philadelphia beneficiou com Julius Erving e George McGinnis e chegou às Finais como favorito. Do outro lado, Bill Walton comandava Portland, com Maurice Lucas como fiel escudeiro. Os Sixers venceram os dois primeiros jogos, mas os Blazers reagiram, apoiados no passe interior sublime de Walton, e viraram para 4-2. O Finals MVP terminou com médias de 18,5 pontos, 19 ressaltos e 5,2 assistências. Jokić é, em muitos aspetos, uma versão moderna de Walton.
Chicago Bulls (1991)
Depois de anos a cair contra os Bad Boy Pistons, os Bulls de Phil Jackson já tinham a triangle offense plenamente assimilada, com Jordan a confiar mais nos colegas. Varrem Detroit na final do Este e derrotam os Lakers de Magic, mesmo perdendo o jogo 1 em Chicago. Seguem-se quatro vitórias seguidas, três delas em Los Angeles. Jordan fez 11,4 assistências por jogo e conquistou o primeiro dos seus seis Finals MVPs.
San Antonio Spurs (1999)
Um título peculiar: temporada encurtada para 50 jogos por causa do lockout. Os Spurs apoiaram-se nas “Twin Towers” de Robinson e Duncan e numa defesa sufocante para dominar os Knicks, que tinham chegado às Finais como 8.º do Este. Duncan, no seu 2.º ano, brilhou com médias de 27,4 pontos, 14 ressaltos e 2,2 desarmes. Curiosamente, foi uma final entre o 1.º do Oeste e o 8.º do Este – cenário que poderia repetir-se em 2023.
Miami Heat (2006)
Shaq juntara-se a Wade, mas os Pistons eram o obstáculo crónico. Em 2006, Miami passou Detroit e encontrou os Mavericks, que abriram a série com 2-0. Só duas equipas tinham recuperado de tal desvantagem. Mas Wade foi imparável: atacou o cesto sem medo, acumulou idas à linha e virou a série com quatro vitórias seguidas. O seu domínio valeu-lhe o Finals MVP… e deixou os Mavs a falar de árbitros.
Toronto Raptors (2019)
Muitos campeões de estreia tinham uma história de “quase”. Não foi o caso dos Raptors. A troca de DeRozan por Kawhi Leonard mudou tudo. Com Leonard como líder, Toronto chegou às Finais e, beneficiando também das lesões de Durant e Klay, derrotou os Warriors aparentemente imbatíveis. Kawhi, que só esteve um ano no Canadá, levou o título e foi justo Finals MVP.