Os primeiros meses de temporada são habitualmente uma altura de aprendizagem e habituação para um rookie. Numa classe de qualidade superlativa no topo, Victor Wembanyama e Chet Holmgren têm dividido as atenções de jornalistas, comentadores e adeptos. Mas há vida para além dos dois principais candidatos a rookie do ano. Especialmente para quem foi escolhido depois da lotaria, provando o seu valor cedo na nova época.
Craig Porter Jr.
Começamos até por quem acabou por não ser escolhido. Craig Porter Jr. é um desconhecido para o adepto comum da NBA, mas tem sido um dos mais utilizados nos Cavaliers, principalmente com os problemas na rotação exterior da equipa de Cleveland. Com a lesão de Darius Garland, Porter Jr. deverá voltar a ter o destaque que teve quando Donovan Mitchell esteve de fora.
Um jogador com excelentes capacidades para chegar ao cesto, explosão e verticalidade, Porter impressiona também pela sua capacidade para aguentar cargas na altura de finalizar e manter-se focado na concretização. É um jogador que cria muito a partir do drible – mais de 60% dos seus lançamentos são não assistidos, 2.ª melhor marca entre rookies – e não tem problema nenhum em assumir a batuta. Marca 1.34 pontos por posse a partir do bloqueio direto, com uma quantidade baixíssima de turnovers. Usa a sua velocidade para chegar ao pintado, sendo um dos melhores novatos a finalizar perto do cesto. Tem um drible baixo e controlado, um baixo centro de gravidade e é muito bom a aproveitar ocasiões de contra-ataque, tornando a defesa em ataque numa questão de segundos.
Porter Jr. é um base com uma boa visão de jogo, capaz de punir defensores adormecidos. 3.º entre rookies em assistências, descobre colegas a partir de ações rápidas, usualmente a partir do topo. Sendo um jogador que ataca o cesto com intenção de marcar, as suas assistências surgem habitualmente do perímetro, com tempo para ver o campo e encontrar a melhor opção de passe.
Keyonte George
Irreverente e imprevisível, Keyonte George encontrou espaço na rotação dos Utah Jazz e assume-se como um nome a ter em conta no backcourt da equipa de Will Hardy. Capaz de executar rápidas mudanças de direção, George deixa o seu defensor para trás mantendo-se próximo do chão e usando o seu corpo como um escudo. Tem a capacidade de parar a sua corrida num pequeno momento, o que ajuda a conquistar espaço para finalizar. É um dos melhores rookies a aproveitar erros ofensivos do adversário para marcar do outro lado e é um promissor marcador de pontos de todos os sítios do campo – 10.9 pontos por jogo, 5.º entre rookies.
O jogador com mais assistências da sua classe até agora, Keyonte impressiona pelas leituras rápidas e algum estilo colocado nas suas entregas. Com 5 assistências por jogo, Hardy confia na 16.ª escolha do draft para organizar a sua equipa e colocar os colegas na melhor posição para marcar. Encontra pequenos espaços na defesa para colocar a bola e entende o melhor timing para fazer o passe. Consegue também manter o ataque num bom ritmo, fazendo a bola rodar de um lado ao outro. Aliás, apesar das suas assistências darem nas vistas, a grande maioria delas são passes simples no seguimento de um ataque, que mantêm a bola a rodar e encontram a melhor opção disponível, sem grande necessidade de exibicionismo extra.
Jaime Jaquez Jr.
Muito se criticou a escolha dos Heat no draft passado, com muitos analistas a colocarem Jaquez bem abaixo do 18.º lugar onde foi escolhido – uma grande parte deles, na 2.ª ronda. A verdade é que, se havia um claro Heat player naquela classe, Jaime tinha de fazer parte da lista. E o extremo de origem mexicana tem excedido expectativas, jogando como alguém que já está na NBA há anos.
Ofensivamente, Erik Spoelstra já confia no jovem para criar, seja a partir do poste ou do bloqueio direto. Sem esquecer as leituras que Jaquez faz sem bola, aparecendo no sítio e momento certos a cortar para lançamentos fáceis e espaçando bem o campo, com capacidade no tiro exterior. Tudo isto leva Jaime a ser o 4.º rookie em pontos, o 7.º em percentagem de lançamentos de campo e o 10.º em percentagem de triplos convertidos.
O 2.º entre os mais novos em roubos de bola – juntamente com Bilal Coulibaly – Jaquez Jr. usa as tais leituras rápidas e instintos para perceber o que o ataque fará e antecipar-se para conseguir roubar a bola. Spoelstra confia nele para defender alguns dos melhores executantes da liga, com Jaquez a mostrar a sua capacidade para defender na bola, usando fisicalidade e facilidade de movimentos para alguém do seu tamanho. Mas há também a questão da leitura fora da bola, onde o ex-UCLA se sente ainda mais confortável. É rápido a ajudar, consegue trocar e procura sempre estar ativo.
Julian Strawther
Strawther ganhou algum mediatismo com excelentes exibições na pré-temporada, mas não é fácil entrar na rotação de uma equipa campeã e os primeiros jogos foram passados maioritariamente no banco. Ainda assim, o talento da 29.ª escolha do draft não passava despercebido a Michael Malone e a lesão de Jamal Murray só acelerou a inevitável inclusão de Strawther na rotação dos Nuggets.
Julian Strawther entende muito bem o jogo, não é alguém que tenta forçar constantemente uma ação com baixa probabilidade de dar certo e, por isso, encaixa tão bem nesta equipa de Denver. Consegue espaçar o campo e lançar do exterior sem hesitação. Mas é também capaz de colocar a bola no chão e jogar bloqueio direto ou atacar closeouts. É um jogador que se molda àquilo que a equipa lhe pede e que, portanto, pode desempenhar diferentes funções dentro do campo.
Cria problemas defensivamente devido ao seu tamanho e constante atividade, com leituras rápidas que os seus 21 anos e 3 épocas universitárias ajudaram a moldar. Chegado à NBA após vários jogos por Gonzaga, onde ganhou confiança e cresceu bastante como jogador, ajudou a que a transição fosse mais fácil que noutros casos. É um jogador que já entende bem o jogo e as tendências ofensivas, o que o torna mais facilmente num defensor disruptivo.
Marcus Sasser
Chegou a Detroit como uma 5.ª ou 6.ª opção para o backcourt dos Pistons, mas a verdade é que Marcus Sasser, 25.ª escolha do draft, conseguiu impressionar Monty Williams e garantir o seu lugar na rotação de uma equipa que tem tido muitos problemas. A turma de Detroit revela dificuldades em tirar o melhor da sua maior promessa – Cade Cunningham, 1.ª escolha em 2021. Em Marcus Sasser podem estar algumas das soluções para esse problema.
Um atirador exterior a lançar 42.5%, com 1.32 pontos por posse em catch and shoot, força a defesa a dar-lhe menos espaço, o que abre caminho para Cade. Sasser é também um criador com bola, habituado a procurar o seu lançamento e a encontrar soluções, seja para si ou para os companheiros. Chega bem perto do cesto, consegue finalizar antes da chegada dos protetores de cesto apesar do seu tamanho e tem um excelente trabalho de pés, capaz de iludir defesas.
Marcus Sasser é o 8.º rookie com mais assistências, apesar de ser talvez a 4.ª escolha da equipa para ter bola. Com a facilidade que tem para chegar ao pintado, atrai defesas e solta facilmente para encontrar atiradores. Tem boa visão de jogo e sabe colocar a bola no sítio certo e no momento certo, começando cada vez mais a ter atenção redobrada por parte das defesas contrárias.
O talento médio da liga continua a crescer e, como tal, tem sido cada vez mais fácil encontrar jogadores capazes de contribuir imediatamente mais tarde no draft – ou até fora dele. Estes 5 jogadores são apenas exemplo do que muito bem se tem feito na NBA. Caberá cada vez mais aos clubes não só encontrar estes jogadores, mas também dar-lhes as ferramentas e o tempo para errar e crescer que os jogadores que enumerei têm tido.