Os Boston Celtics ainda procuram uma identidade. Neemias Queta já é um facto.
Com Jaylen Brown a carregar o ataque e a defesa a viver de ajustes constantes, poste português entra no inverno como peça-chave e nome de elite nas métricas avançadas.
Vinte e quatro jogos depois, continua a ser difícil resumir os Boston Celtics numa frase. Depois de um arranque oscilante (0–3), a equipa chega à melhor fase da época: cinco vitórias consecutivas, 10–2 nos últimos 12 encontros e subida ao terceiro lugar da Conferência Este. A coincidência não é acidental. A série começou no dia em que Jordan Walsh foi promovido ao cinco inicial. Desde 12 de novembro, só os campeões Oklahoma City Thunder têm melhor registo: 12–0 contra 10–2 de Boston.
Nesse período, os Celtics exibem o melhor ataque da liga, com uma eficiência ofensiva de 128.6 pontos por cada 100 posses de bola, à frente de Denver Nuggets, New York Knicks, OKC e Houston Rockets. A eficiência defensiva de 116.2 coloca a equipa no meio da tabela (18.º), mas ainda assim com um net rating de +12.4, segundo melhor da NBA. E jogam devagar, muito devagar. São 30.º em pace, com apenas 95.7 posses por jogo, e mesmo assim marcaram 122.8 pontos de média nos últimos 12 jogos, com 50.3% de campo e 41.2% de três pontos em 17.4 triplos convertidos por noite. Poucos turnovers, muitos triplos, muitos ressaltos ofensivos e um nível de execução que tapa boa parte das falhas estruturais.
Os power rankings acompanharam a mudança de temperatura. Em duas semanas, Boston trepou vários lugares e o calendário recente ajuda a dar contexto. Os Celtics lideram a NBA com nove vitórias frente às 17 equipas que têm registo positivo. Estão 9–7 nesse mini-campeonato e 6–1 nos últimos 15 dias, com triunfos frente a Orlando Magic, Detroit Pistons, Cleveland Cavaliers, New York Knicks, Los Angeles Lakers e Toronto Raptors. Em Washington assinaram uma das noites mais eficientes das últimas três décadas: 146 pontos em 97 posses, o equivalente a 150.5 pontos por 100 posses, número que entra no top-10 ofensivo desde que há dados detalhados de play-by-play. E durante esta sequência recente de 12 jogos houve um período de mais de 162 minutos sem estarem em desvantagem no marcador.
Há, no entanto, um desequilíbrio evidente entre ataque e defesa. O lado ofensivo vive de talento individual. Jaylen Brown está a ter a época de lançamento mais eficiente da carreira, com true shooting de 58.9% e a terceira maior usage rate da liga (35.2%). Lidera a NBA em lançamentos de média distância convertidos, com 51% de eficácia num volume que os modelos de qualidade de lançamento estimam em apenas 39%. É um ano de puro shotmaking: a diferença entre a dificuldade dos lançamentos e o aproveitamento real coloca Brown num grupo muito restrito, ao lado de nomes como Donovan Mitchell, Luka Dončić, Zach LaVine e Kawhi Leonard.
Do outro lado, Joe Mazzulla fez uma escolha: tirar o espaço da zona pintada, mesmo que isso permita lançamentos dos 7,25 metros. Os Celtics mostram corpos nas penetrações em drible das estrelas adversárias, ajudam cedo e obrigam a decisões. O problema está em terminar a posse de bola. Boston é último em defensive rebound rate e paga caro cada ressalto ofensivo permitido, muitas vezes transformados em triplos abertos. Ainda assim, o cinco inicial atual, em mais de 100 minutos, tem um defensive rating de 102.1, segundo melhor entre os lineups com esse volume, e limita os adversários a apenas 41.8% nos lançamentos de dois pontos. A ideia existe; a execução ainda oscila.
É neste contexto que as duas grandes alterações – Jordan Walsh no perímetro, Neemias Queta no centro da área restritiva – ganham peso. Walsh trouxe envergadura, agressividade e versatilidade defensiva no ponto de ataque, libertando Derrick White para mais ações fora da bola e permitindo alinhar sempre dois defensores de elite nas alas. Nos minutos em que é ele a liderar a pressão, os Celtics conseguem ser mais físicos sem perderem velocidade em transição. Quando a prioridade é travar o adversário e fechar o aro, a resposta tem sido outra: Neemias Queta.
Walsh fecha o perímetro, Neemias tranca o pintado
Nos últimos 12 jogos, os minutos com o poste português em campo traduzem-se num defensive rating de 107.0, número que aproxima os Celtics das melhores defesas da liga. Os dados do Cleaning the Glass, que exclui minutos em garbage time, puxam Neemias ainda mais para o centro da fotografia. Os três quintetos mais utilizados por Mazzulla esta época têm o português como poste. O cinco atual com Payton Pritchard, Derrick White, Jordan Walsh, Jaylen Brown e Neemias soma 228 posses de bola e apresenta um diferencial de +22.4 pontos por cada 100 posses, com ataque no percentil 81 e defesa no percentil 87.
Ao mesmo tempo, a forma como Neemias cria vantagens sem lançar muito encaixa perfeitamente nas necessidades da equipa. Num texto recente no Celtics Blog sobre a vitória em Toronto, o analista Azad Rosay sublinhava que o poste português “pode ser, neste momento, o melhor bloqueador da NBA”. O gráfico usado no artigo mostrava Neemias como um dos jogadores da liga com mais pontos gerados por screen assists em relação ao tempo de utilização. Frente aos Raptors, ajudou a produzir 19 pontos a partir de bloqueios.
Vários analistas norte-americanos têm batido na mesma tecla: Neemias é um poste titular competente, uma ameaça vertical para lobs, excelente ressaltador ofensivo e com defesa claramente melhorada em relação a anos anteriores. Num Este aberto, com Detroit como única equipa verdadeiramente consistente e quase todos os outros contenders a oscilarem, há quem olhe para este núcleo e veja uma oportunidade imediata se Jason Tatum regressar bem e se o front office conseguir transformar o contrato de Anfernee Simons em mais profundidade interior.
O calendário do final de ano reforça essa ideia de laboratório. A eliminação precoce na NBA Cup deixou apenas oito jogos no que resta do mês de dezembro, com espaço para treinos e recuperação. Mas a lista de matchups diretos para Neemias até ao final do ano civil é um minicurso intensivo da posição 5: Myles Turner (Milwaukee) a abrir o campo e a proteger o aro; Jalen Duren (Detroit) a testar o físico e o ressalto; Bam Adebayo (Miami) a obrigar a ler handoffs e short roll; Jakob Pöeltl (Toronto) a castigar cada erro de posicionamento defensivo; Jay Huff (Indiana) a esticar a defesa em pick-and-pop; Donovan Clingan (Portland) como âncora tradicional; Jusuf Nurkić (Utah) a juntar peso, visão de jogo e uso do corpo.
Tudo isto é aquecimento para um mês de janeiro com 16 jogos, viagens sucessivas e pouco tempo de treino. Se dezembro serve para testar Neemias contra perfis diferentes de poste, janeiro vai testar a capacidade de manter nível físico e mental quando o calendário aperta e as equipas adversárias já têm relatórios cada vez mais detalhados sobre o que faz e onde pode ser explorado.
Cada vez mais métricas colocam Neemias na elite
A narrativa mais óbvia fala de médias de 10.1 pontos, 8.2 ressaltos e 1.4 desarmes de lançamento em 24.2 minutos, com 65.8% de lançamentos de campo e um ataque que, em cima disso, quase não desperdiça posses. Mas o dado mais revelador do arranque de época de Neemias não está na linha estatística tradicional. Está nas métricas que tentam responder a uma pergunta: quantas vitórias vale, de facto, um jogador com este perfil e estes minutos?
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