Neemias Queta rejeita estatuto de titular
Com um estilo de jogo mais rápido e sem 'stretch five', Boston Celtics testam soluções no jogo interior e internacional português perfila-se para o cinco inicial... para já.
O training camp dos Boston Celtics abriu com uma palavra de ordem: velocidade. O treinador Joe Mazzulla empurrou o grupo para um mindset de execução rápida, sem pausas, e a rotação interior vai nascer de competição real, noite após noite, apesar dos sinais que apontam Neemias Queta como o poste que vai iniciar a época no cinco inicial.
Em conversa com Marc D’Amico para o YouTube dos Celtics e numa visita ao programa 98.5 The Sports Hub, o poste português de 26 anos e 2,13 metros passou em revista os primeiros treinos da pré-temporada e projetou a época 2025-26.
A concorrência na área pintada está viva e, para já, sem dono anunciado. O português sublinha a diversidade de perfis e a lógica “por comité”.
“Tem sido uma boa competição. Cada um de nós é único à sua maneira: há quem espaçe e defenda no perímetro, como o Xavier (Tillman); o Chris (Boucher) lança de três, é comprido, vai ao ressalto e troca; eu protejo o cesto, faço bons bloqueios, finalizo sob pressão, sou uma força no pintado; o Luka (Garza) tem motor e uma grande capacidade de trabalho. No fim do dia, é por comité. Temos de jogar o mais duro possível no tempo em que estamos em campo e deixar as coisas definirem-se. O Joe Mazzulla disse que vamos ter lineups diferentes e também cinco diferentes para fechar jogos. Temos de estar preparados.”
A memória recente também pesa: anos a aprender, com minutos mais curtos, atrás de veteranos de elite como Kristaps Porziņģis e Al Horford.
“Nos últimos anos tivemos o luxo de ter grandes postes. Eu e o Xavier não conseguimos mesmo entrar na rotação porque eles eram tão bons, mas estávamos aqui para aprender com eles como ser eficazes. Quando chegasse este momento, já teríamos os tijolos da base colocados. Agora é ir com a mentalidade certa e atacar todas as noites, porque nunca sabes o que o jogo te vai pedir.”
A base dessa evolução poderá estar ancorada nas mudanças no corpo de Neemias. Mais força, mais controlo, mais estabilidade nos contactos.
“Trabalhei muito no ginásio com a equipa técnica. Atacámos fraquezas e fiquei mais forte. No geral, o meu corpo está a ficar mais forte e consigo controlá-lo melhor. Consigo ficar à frente dos adversários, manter a posição sem perder o controlo dos braços. Acho que se vai notar este ano.”
Sobre a titularidade, frieza nas palavras: o lugar não está definido.
“Não estou a pensar nisso agora. Vai ser uma época longa. Posso começar alguns jogos, o Xavier, o Chris, o Luka ou o Amari (Williams) também. Temos muitas opções e, no fim do dia, o que importa é ganhar. Em Boston lembram-se das equipas, não dos jogadores. Se ganharmos, estamos bem.”
Os primeiros dias de treino têm sido intensos e a identidade está a deslocar-se para um ritmo alto, com decisões rápidas e múltiplas ações por posse de bola. O adjunto Sam Cassell disse, inclusivamente, que este training camp é mais duro do que qualquer um que teve em 16 anos na NBA. Neemias não se queixa.
“O nosso basquetebol, este ano, vai ser diferente. Vamos jogar num ritmo mais rápido do que nunca e através de uma série de ações. Queremos que a bola vá de um lado ao outro, procurar fragilidades na defesa e jogar com ritmo, fazendo com que as equipas cheguem sempre tarde à ação seguinte.”
Há também um vínculo emocional com as bancadas, que tem vindo a crescer. O português nota a presença de camisolas com o número 88 e o carinho da comunidade.
“É bom. E eu adoro isso. Há muitos portugueses em Boston e em New England e mostram muito carinho. É um daqueles sítios onde não tens de ser o Jayson Tatum ou o Jaylen Brown para ter alguém na bancada a dizer: ‘Gosto daquele tipo. Gosto de como joga. Gosto da abordagem.’ Acho que sou um desses. E também tenho um número porreiro. É único. Não vês muito por aí.”
As saídas de Porziņģis, Horford, Luke Kornet e Jrue Holiday, e a ausência prolongada de Jayson Tatum, não alteram a bitola interna. O foco continua a ser ganhar, começando pela NBA Cup.
“Obviamente, os media podem falar sobre o que perdemos e o que temos agora. Queremos jogar basquetebol dos Celtics ao melhor das nossas capacidades. E basquetebol dos Celtics é ganhar. Não queremos menos do que isso. Queremos começar forte e atacar a NBA Cup cedo, para marcar posição. Vai demorar um bocado porque é um grupo novo, mas sinto que temos as pessoas certas no balneário para fazer deste ano um grande sucesso.”
Na preparação individual, a palavra de ordem é fiabilidade: aparecer todos os dias, em grande forma, e elevar os colegas.
“Como um dos mais experientes aqui, tenho de ser dos que aparecem todos os dias. Ser fiável. Uma coisa é jogar um jogo de vez em quando, ou dois ou três jogos, e depois ter quatro em que não jogas. Mas ter consistência para jogar todas as noites e ter expetativas para cumprir é totalmente diferente. Ajudar os colegas a ficarem melhores e a ganhar. Para mim, a parte do trabalho é estar em grande forma, não ser superado em esforço, e o resto aparece naturalmente.”
O contexto operacional reforça a urgência de respostas no frontcourt: sem stretch five de raiz, Joe Mazzulla quer acelerar o jogo, multiplicar ações e transformar defesa em ataque, como dissecámos na última edição de Queta Report. A pré-época arranca já esta semana, com dois jogos fora: quarta-feira em Memphis e sexta em Toronto.
Entretanto, na imprensa nacional dos EUA, o jornalista Morten Stig Jensen incluiu Neemias numa lista de quatro jogadores “under-the-radar” para seguir em 2025-26. Fica o excerto sobre o poste português no artigo da Yahoo:
“Não é preciso ser cientista para perceber que um frontcourt depauperado dos Celtics vai oferecer oportunidades a quem estiver pronto para as agarrar. Queta, de 26 anos, não vai reinventar a roda. Não é atirador; é um poste tradicional, à moda dos anos 80 e 90. Mas isso não significa que não vá ter todas as hipóteses de absorver minutos e dar presença interior a Boston. É provável que veja um salto significativo de minutos e, se replicar a produção por minuto, tem boas probabilidades de apresentar números de respeito. Boston continuará focado no triplo, por isso não é garantido que veja muitas posses de bola desenhadas para ele. Ainda assim, os ressaltos e os desarmes de Queta vão fazer barulho.”