A época passada trouxe uma regressão, muito por ser tempo de habituação a uma liga nova e mais exigente. Esse período já lá vai e Neemias parece cada vez mais um peixe dentro de água, por vezes grande demais para o aquário onde está.
Conhecido pela defesa e ferocidade a subir ao cesto, Neemias Queta vai dando passos decisivos rumo à afirmação, primeiro na G League e depois na NBA. O portfólio cresce e as qualidades diversificam-se, enquanto o português aguarda uma oportunidade real na principal liga do basquetebol. Este ano, o salto é evidente como passador: melhorou números e leitura, assumindo-se como um dos homens-chave dos Stockton Kings.
Os números rebentam a escala face a 2021-22: 3,4 assistências por jogo (1,2 no ano passado) e 16,6% de percentagem de assistências (7,4% em 2021-22). Colocam-no em 4.º lugar em ambas as categorias entre os postes da NBA G League.
A subida numérica nasce da procura de Queta como eixo ofensivo, sobretudo nas zonas onde é mais confortável: poste alto e poste baixo. Sair do poste alto para o handoff é a jogada de maior sucesso, mas, como o gráfico mostra, são várias as formas como assiste e envolve os colegas.
Poste alto
Comecemos aí: bola à mão a partir do poste alto, com todos os detalhes. Paciência com bola, sem forçar; procura pela melhor opção; uso do corpo como escudo para oferecer um lançamento mais limpo ao colega.
Hoje, Neemias é um excelente passador com muito boa leitura. Entende os timings e descobre colegas no instante certo. Do poste alto, espera o corte e encontra-os nas costas da defesa para passes fáceis.
Outro ponto visível este ano é a disponibilidade para pedir bola e inverter jogo. Quando a defesa “cai” para um lado, Neemias abre linha de passe e vira rapidamente o sentido, encontrando colegas sozinhos.
Poste baixo
Menos utilizada pelos Kings mas não menos efetiva, a colocação de Neemias como receptor no poste baixo, chamando a si mais que um defesa, tem trazido frutos à equipa de Stockton. Com a leitura do poste por cima da defesa, este é capaz de encontrar quem corta mas, especialmente, o atirador no canto contrário. É uma habilidade em voga na NBA e algo que o treinador valoriza. Domantas Sabonis, por exemplo, é exímio neste tipo de passe.
A partir do topo
Com a evolução recente no lançamento exterior, também o raio de ação ofensiva aumenta. Embora raro, vê-se por vezes Queta no topo da linha de 3 pontos, a servir colegas via handoffs ou, quando respeitam o seu tiro, a encontrar companheiros sozinhos após hard closeouts.
Penetração e passe para fora
Nem sempre a primeira ação resulta. Para criar uma segunda, Neemias precisa de ferramentas: mais drible e penetração atraem ajudas e abrem o exterior. Ele lê e encontra os atiradores.
A partir do bloqueio indireto
Os Stockton Kings procuram com frequência o bloqueio nas costas para a entrada do poste em zonas próximas do cesto. Nessas situações, é comum surgirem duas ajudas sobre Neemias. A paciência é crucial para identificar de onde vem a ajuda e fugir ao 2×1, servindo depois o colega no dunker spot ou no perímetro quando a defesa colapsa.
Transição
Neemias nunca será um jogador capaz de avançar a bola após ressalto com o seu drible, mas há sempre maneiras de ajudar a equipa a sair em transição, principalmente para alguém como ele, tantas vezes envolvido na proteção do cesto e dos ressaltos. Em transição, saindo rápido para um corredor e entregando ou vendo o colega adiantado quando ainda segura o ressalto, há diferentes formas de Queta contribuir, usando o seu nível avançado no passe para tal.
Short roll
Habilidade essencial na NBA atual: o short roll e a leitura daí resultante trazem frutos a quem o domina. A paciência que Queta já exibe é chave. Não entra em pânico com a ajuda; espera, escolhe a melhor opção e entrega.
Em julho de 2021, pouco antes do Draft que levou Neemias à NBA, escrevi isto no meu scouting report dos tempos em Utah State. Era, para mim, a swing skill que lhe garantiria um lugar de rotação, e a evolução é clara, sobretudo na saída de 2×1 e na leitura no poste alto.
Hoje, Neemias é figura de destaque na G League, quase um adulto naquele nível, alguém que, mais cedo ou mais tarde, beneficiará da subida ao patamar máximo. A atenção que já merece das defesas e a facilidade de execução mostram que está cada vez mais preparado, embora estes jogos na G League continuem a ser fundamentais. Com mais bola e mais repetições, a leitura rápida e o passe só vão ganhar qualidade. É essencial para o futuro de Neemias Queta.