Neemias Queta, de solução de recurso a peça-chave nos Boston Celtics
Métricas avançadas e vídeo não enganam: poste português é determinante para a equipa treinada por Joe Mazzulla e conquista reconhecimento fora de casa.
Os Boston Celtics começaram a época sem rede na posição de poste. Onze jogos depois, somam 5 vitórias e 6 derrotas, mas têm uma certeza: com Neemias Queta em campo, a equipa joga melhor. Muito melhor. O internacional português de 26 anos e 2,13 metros vem somando boas exibições, incluindo o melhor jogo da carreira frente aos Washington Wizards: 15 pontos (7/7 FG), 12 ressaltos, 5 assistências, 1 roubo, 1 desarme e um plus/minus de +23 em pouco mais de 24 minutos. O desempenho empurrou o debate para fora de Boston.
A amostra ainda é curta, mas o retrato estatístico do arranque mostra que está a converter minutos em valor. Entre todos os jogadores da NBA com ≥ 5 jogos e ≥ 20 minutos, Neemias é 5.º em defensive rating (100.2 pontos sofridos por 100 posses com ele em campo), 12.º em net rating (saldo entre pontos marcados e sofridos por 100 posses) e 11.º em OREB% (percentagem de ressaltos ofensivos disponíveis que captura).
Defensivamente, o maior impacto está na proteção de cesto: 2.º da equipa em contested shots (via NBA.com) e percentil 95 da liga em desarmes de lançamento, segundo o Dunks and Threes. No mesmo site, surge no percentil 97 em Defensive Estimated Plus-Minus (DEPM), uma métrica ajustada a contexto que estima quantos pontos a equipa evita por 100 posses com ele em campo; em termos práticos, está na elite da NBA.
No ataque, tem sido determinante para o sucesso do backcourt dos Celtics, com bloqueios que originam cestos aos ballhandlers: 3.5 screen assists por jogo e 8.4 pontos gerados via bloqueios, com 39 screen assists e 92 pontos acumulados em 11 partidas. Jaylen Brown, Derrick White e Payton Pritchard têm sido os principais beneficiários, com o português a oferecer também verticalidade ao pick-and-roll.
Joe Mazzulla: “Somos uma equipa melhor quando ele está em campo“
O contexto ajuda a explicar a escalada. Numa rotação órfã de Kristaps Porziņģis, Al Horford e Luke Kornet, que saíram de Boston na offseason, as alternativas ao português têm oscilado. A diferença de rendimento é gritante e já motivou elogios públicos de Joe Mazzulla:
“Temos de olhar para as estatísticas com alguma prudência, mas no fim do dia conta mais o trabalho que o Neemy tem feito e como tem melhorado. Somos uma equipa melhor quando ele está em campo, e ele percebe essa responsabilidade, bem como a execução que isso exige. É um jogador que continua a ficar cada vez melhor. Não precisamos de estatísticas para ver isso, porque é claro o quão bom tem sido para nós. Temos é de continuar a melhorar.”
Há margem para crescer, a começar pelo ataque: os colegas ainda não o procuram como alvo de passe, mesmo quando está sozinho debaixo do cesto. Nos indicadores da ESPN Analytics, de Dean Oliver, apresenta +1.3 net points per 100 possessions global, com impacto defensivo positivo (+1.4) e espaço para evoluir no lado ofensivo.
Reconhecimento nacional nos EUA
Em Boston, os beat writers que acompanham os Celtics estão rendidos e sublinham o essencial: Boston esmaga adversários quando o gigante do Vale da Amoreira está em campo e o drop-off quando se senta no banco é real e recorrente.
Esses sinais começam a ser notados por vozes com plataformas nacionais. No mais recente episódio do The Lowe Post, podcast do The Ringer, o reputado analista Zach Lowe escolheu Neemias para o segmento “unsung heroes / pleasant surprises” do arranque da época:
“Um poste suplente, tipo journeyman, que eles conseguiram sem dar praticamente nada em troca. Está a fazer apenas nove pontos e oito ressaltos por jogo — nada de extraordinário —, mas numa equipa que está absolutamente carente de tamanho funcional, isso já é valioso. É um bom ressaltador, embora sozinho não consiga resolver o problema dos Celtics nas tabelas defensivas — estão a ser dominados nos ressaltos. Mesmo assim, está a lançar com eficácia, tem um bom touch e é móvel na defesa, capaz de defender de várias formas. Ainda é cedo, e parte destes números deve-se ao facto de os adversários estarem a lançar muito mal de três pontos quando ele está em campo. Portanto, é preciso relativizar. Mas a verdade é que a equipa tem um plus-minus de +19 por 100 posses com o Neemias em campo e de −7 quando ele sai. A combinação de Luka Garza, Chris Boucher e Xavier Tillman simplesmente não está a resultar. (…) Tudo isto faz perceber o quanto se valoriza ter um poste funcional e competente. Quando tiram esse jogador do campo, a equipa fica completamente perdida.”
A mensagem é evidente: apesar do papel modesto, o poste português tem um impacto grande no sucesso coletivo. A validação fora da bolha de Boston está em andamento.
No início da época, Neemias era a solução transitória de um franchise sem postes com provas dadas na NBA. Hoje é a âncora de uma identidade: ritmo, pressão no aro e proteção de cesto. Os números sustentam, o vídeo confirma e a conversa nacional já lhe reconhece o lugar.
Se mantiver este nível de impacto defensivo de topo, screening de elite e capacidade de ressalto ofensivo, a discussão deixa de ser “deve jogar mais?” para “onde é que fica o teto?”. Por agora, uma certeza: os cépticos estão a ficar sem argumentos.
A noite perfeita de Neemias Queta calou os cépticos?
Novo episódio de Queta Report, com o jornalista José Volta e Pinto, em que partimos da noite perfeita de Neemias Queta (15 PTS, 12 REB, 5 AST, 1 STL, 1 BLK) frente aos Washington Wizards para mapear o seu lugar nesta versão dos Boston Celtics. Âncora defensiva e presença que estabiliza o coletivo; no ataque, ameaça vertical, altamente eficaz no






