Mesa de cabeceira #4 - Bring back the Sonics
Em 1991 tinha 12 anos e descobri o grunge e o basquetebol ao mesmo tempo, como quem tropeça em duas religiões e decide praticar dupla heresia. Ia para a escola e para os treinos com Nirvana no walkman, sempre a mesma cassete torturada, sempre o mesmo ritual de fim de noite: rebobinar com uma BIC como quem dá corda a um coração teimoso. A porta de entrada para a NBA foi o único vizinho com antena parabólica e paciência para gravar a DSF alemã, esse contrabando da madrugada que deu contexto às minhas olheiras.
E depois houve o momento em que percebi que a coincidência não era coincidência: Nirvana eram de Seattle, a mesma cidade dos verdes que perderam em 96 para os Bulls, série que ainda deve estar em VHS algures na casa da minha mãe, entre todas as Finais gravadas desde 92, o ano do shrug do MJ que ensinou ao mundo que a arrogância, quando é justa, é apenas inevitabilidade. Claro que torci pelos Sonics em 96, porque a adolescência precisa de tragédias elegantes.
Não há muito tempo reparei que, aos sete segundos do videoclip de Smells Like Teen Spirit, o plano panorâmico revela um ginásio escolar com uma tabela de basquetebol ao fundo. Dave Grohl entra como artilharia ligeira, Kurt Cobain invade o enquadramento como quem empurra uma porta e nos atravessa por dentro.
Sim, a recomendação para este fim-de-semana não é um vídeo sobre basquetebol. É o concerto encapsulado naquela cassete que viu mais plástico da caneta BIC do que luz do dia, enterrada naquele walkman: Nirvana, Live at the Paramount. Cinco semanas após o lançamento Nevermind, num teatro da cidade que os criou, quase ninguém reage aos primeiros acordes de músicas que hoje são património global.
Não dá para “bring back Nirvana”. Dá para “bring back the Sonics”.
📚 Dobra no canto
Esta semana, a sugestão de leitura é “7 Identity Changers”, um ensaio de Mike Shearer (Basketball Poetry). Sete nomes que não acrescentam só números; mudam o sistema. Quem toca na bola, quando, e porquê. É o pós-verão visto pelo prisma certo: identidade antes dos highlights.
Outras sugestões de leitura:
📝 Face of the NBA: Can Luka or Ant succeed LeBron and Curry? - Zach Kram (ESPN)
📝 Ranking the 117 Best NBA Names of the Quarter Century - Tyler Parker (The Ringer)
☕ Conversa de café
Na última edição do podcast Bola ao Ar, falámos da novela Giannis Antetokounmpo–New York Knicks, da ciática que vai atrasar LeBron James no arranque da temporada, dos destaques do GM Survey e da escolha de Erik Spoelstra para a Team USA.
E na primeira edição da semana, passámos por “skinny Zion”, os primeiros sinais dos Knicks de Mike Brown, o efeito Desmond Bane em Orlando, a versão vitaminada de Wembanyama e a tendência Thunder/Pacers que toda a liga vai copiar.
No podcast Afunda de 3, fizemos o nosso draft de overs/unders da época NBA… tudo depois de LeBron James trocar a retirada por uma publicidade.
🚨 Buzzer beater
Citação da pré-época.
Um separador aguentou-se estoicamente aberto desde o dia em que este texto chegou à caixa de correio. O primeiro parágrafo fez-me voltar atrás umas boas três vezes: no tempo e no texto. Não porque não estivesse a perceber, mais porque estava demasiado agradável ao cérebro. E sim, também torci pelos Sonics nessas Finais.
Nirvana é amor!