Mesa de cabeceira #10 - O peso da genialidade
LeBron James, Steve Nash e Steph Curry sentam-se à mesa para falar de corpo, medo, liderança e do preço de viver décadas como rosto de uma equipa.
Não me lembro da primeira vez que vi jogar Steve Nash, mas lembro-me da sensação: parecia alguém que tinha entrado no campo vindo directamente de um pick-up game com amigos, onde toda a gente se conhece há 10 anos. O drible quase colado ao chão, o corpo frágil para a liga, o olhar sempre dois segundos à frente da jogada. Mais do que highlights, Nash ensinou que pensar o jogo também é uma forma de o jogar. E que há qualquer coisa de profundamente belo em passar a bola no tempo certo, para o ângulo certo, à pessoa certa.
Ver Nash sentado com Steph Curry e LeBron James no podcast “Mind the Game” é, por isso, uma espécie de full circle emocional. São três jogadores que moldaram épocas diferentes da NBA, a falar como se estivessem num balneário vazio depois de um Jogo 7: sem filtros, sem medo de entrar em temas que normalmente ficam longe das câmaras. Curry desmonta o seu lançamento, os tornozelos frágeis, a reconstrução do corpo. LeBron conta o que é perseguir o melhor atirador da história por bloqueios infinitos, sentir o cansaço a acumular e, mesmo assim, ter de decidir tudo em meio segundo. Nash faz o que sempre fez melhor: observa, faz perguntas certeiras e amarra todas as ideias numa lógica de basquetebol puro.
Há momentos em que os três falam de mecânica de lançamento, de sistemas ofensivos, de gravidade e de decisões no pick-and-roll. Mas o que fica são outras coisas: o medo real de o corpo falhar antes da cabeça, as dúvidas silenciosas nos anos das lesões, a disciplina de aparecer todos os dias com a mesma energia quando uma equipa inteira lê o humor do melhor jogador antes de entrar em campo. Falam de liderança sem frases feitas, de como é difícil encontrar o tom certo para falar com 15 personalidades diferentes, de como se aprende a viver com a responsabilidade de ser o rosto de um franchise durante décadas.
Estes dois episódios têm um peso especial. Não são “conteúdos” sobre basquetebol; são uma conversa longa sobre o que significa dedicar uma vida inteira a um jogo que, mais cedo ou mais tarde, nos expulsa. São vídeos para ver devagar, não para saber o resultado, mas para perceber como é que tudo aconteceu.
📚 Dobra no canto
Os Houston Rockets passaram cinco anos a tentar descobrir quem eram depois da saída de James Harden. Agora, com um registo de 10–3 e o melhor ataque da NBA, a resposta é simples: são provavelmente a equipa mais estranha entre as boas equipas da liga. Lineups gigantes com Steven Adams e Alperen Şengün a devorar ressaltos ofensivos, Amen Thompson a atravessar o campo em dois passos, Reed Sheppard a lançar como se estivesse num treino a solo.
O texto mostra como Houston saiu do limbo pós-superestrela, como encadeou bem as decisões de front office e porque é que esta mistura de zona, duplos postes e um espécime como Amen pode funcionar mesmo sem Fred VanVleet a comandar o ataque. Há contexto táctico, números que parecem bug de videojogo e uma leitura do trabalho de Ime Udoka: aceitar as limitações do plantel, exagerar nas virtudes e viver com o desconforto que causa aos adversários.
É uma leitura para quem gosta de ver o jogo a mudar em tempo real. Enquanto metade da liga tenta copiar o modelo dos Oklahoma City Thunder, os Rockets estão a construir outra coisa: uma equipa jovem, competitiva e assumidamente esquisita, que talvez ainda não esteja pronta para derrubar o campeão, mas já está perigosamente perto de entrar a sério na conversa dos candidatos.
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