Menos (e melhores) jogos
O início da temporada da NBA está a ser marcado pelas várias lesões ocorridas nestes primeiros jogos. Umas mais graves e outras menos, mas não tem havido um único dia sem notícias de atletas lesionados. Os responsáveis da liga norte-americana estão atentos a este fenómeno e, como o jogo é dos jogadores, é expectável que surjam medidas para inverter esta tendência de vermos cada vez mais atletas no estaleiro. E uma delas, a redução do número de jogos da época regular, vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Provavelmente mais cedo do que tarde.
Temos testemunhado o espírito reformista de Adam Silver, comissário da NBA, desde que sucedeu a David Stern em fevereiro de 2014. Das muitas mudanças que promoveu na liga, a mais recente foi a reestruturação do formato do All-Star Game, com o objetivo de o tornar mais competitivo. Depois do All-Star da época passada, em que foram marcados um total de 374 pontos na soma de Este e Oeste, Silver achou que era demais e, ouvindo o apelo de Chris Paul – o base dos Houston Rockets é o presidente da NBA Players Association – de que era preciso “resolver isto”, o comissário não perdeu tempo e anunciou as mudanças.
Acabou o Este e o Oeste.
Foi o fim de uma tradição que, mais do que a mudança em si, representa algo maior. Foi a prova derradeira de que, para o “homem forte” da NBA, não há convenções.
E vem aí a mudança maior: a redução do número de jogos da fase regular. Silver já o deu a entender quando, na primeira semana de outubro, afirmou que “não há nada mágico em jogar 82 jogos”. E não há. A época é demasiado longa e extenuante para os verdadeiros protagonistas. Em princípio, menos jogos é sinónimo de jogos melhores.
É verdade que mexer na duração da época regular vai gerar críticas.
“Antigamente, toda a gente jogava 82 jogos e ninguém se queixava!”, dirão alguns.
“Sem 82 jogos não será possível comparar registos históricos de eras diferentes!”, dirão outros.
“Deixem-se de merdas.”, digo eu.
O jogo de hoje é diferente do do “antigamente”. As defesas são mais complexas e há mais ajudas. Há mais lançadores exteriores, pelo que há mais espaço para defender. Nos anos 80, as equipas da NBA lançavam, em média, três triplos por jogo. Hoje essa média aproxima-se dos trinta triplos tentados. É claro que há mais cansaço na era em que vivemos. É claro que os jogadores pagam uma fatura muito maior, do ponto de vista físico, na NBA de hoje. Mudemos, então.
Na teoria, ajudaria a diminuir as lesões, mas também os famosos DNP (sigla de Did Not Play, que aparece nas folhas estatísticas com maior frequência nos anos mais recentes), que os treinadores usam tantas vezes para fazer descansar os seus jogadores. Não é, Pop? E até os próprios jogadores já vieram a público pedir isso mesmo. Dirk Nowitzki, LeBron James e o próprio Kobe Bryant, conhecido pela sua inesgotável capacidade de luta, foram porta-vozes dessa vontade. “Podemos oferecer um show melhor aos adeptos. Se os jogadores descansassem mais, não haveria DNP para descansar. Todos teriam performances a um nível máximo, porque os jogadores teriam o descanso necessário”, disse recentemente o Black Mamba.
No que diz respeito ao calendário, a mudança seria tranquila. E há propostas. Cada equipa da NBA poderia jogar duas vezes com as equipas da outra conferência (15×2=30), duas vezes com as equipas da sua conferência (14×2=28) e duas vezes com cada equipa da sua divisão (4×2=8). Tudo somado dá 66 jogos, o que representaria uma redução de 16 partidas em relação à duração atual. Menos jogos, menos viagens, menos back-to-back (jogos em dias consecutivos) e… mais treinos.
Mas também menos receitas. Quanto a isso, o comissário já admitiu criar um torneio de meio de temporada, ao estilo do NCAA March Madness (quem perde é eliminado), que pode ser a resposta à queda de receitas provocada pela diminuição de jogos, até porque se prevê que os direitos televisivos de um torneio desse género sejam lucrativos. E o que as equipas ganhariam com a participação nesse torneio? Vantagem de jogar em casa nos playoffs para o vencedor, por exemplo.
As hipóteses estão em cima da mesa e coragem não falta a Adam Silver. É uma questão de tempo. Finalmente.