Expectativas altas em Dallas: o novo patamar para Luka Dončić
Começa a ser difícil falar de Luka Dončić sem simplesmente fazer uma lista de superlativos e seguir em frente. No sexto ano de uma carreira que tem sido bem-sucedida de um modo quase sem precedentes, o esloveno está a ter a sua melhor temporada de sempre, com médias de 33,9 pontos, 9,2 ressaltos e 9,8 assistências e um impressionante salto na percentagem de conversão de triplos para 38,2%, eliminando efetivamente aquele que era o único ponto fraco no seu repertório ofensivo.
De 28 de fevereiro a 9 de março, Luka teve uma sequência de seis jogos consecutivos com triplos-duplos de 30 pontos ou mais, que terminou quando, no jogo seguinte, Dončić registou um triplo-duplo… com 27 pontos. Vai certamente repetir uma presença na All-NBA First Team, algo que conseguiu em todos os anos da sua carreira menos no de rookie. E não vai ter qualquer hipótese de lutar pelo MVP. Porque Nikola Jokić existe.
Resumindo: Luka Dončić é um excelente jogador. Já é um dos melhores que a liga viu. Mas, no seu sexto ano na NBA, está a entrar rapidamente numa fase da carreira em que acumular estatísticas muito boas vai deixar de ser suficiente. Mais cedo ou mais tarde, os seus feitos terão de ser traduzidos em sucesso nos playoffs. Assim é a vida de uma superestrela. E não é como se Luka tivesse, propriamente, um mau registo nesse sentido.
O jovem jogador já acumulou vários momentos clutch em jogos decisivos de playoffs e tende a melhorar a sua produção, tanto em valores brutos como em eficiência, na postseason. Em 2021-22, levou os Mavs à final de conferência, depois de eliminar Devin Booker e os Phoenix Suns de forma humilhante. Mas, no ano passado, a sua equipa falhou os playoffs. Este ano estão de volta e Dončić estará rodeado por alguns elementos que têm tudo para o ajudar a sonhar alto.
Primeiro que tudo, Dončić conta agora com um número 2 que é uma genuína estrela, com capacidade para assumir o jogo quando as equipas focam toda a sua atenção em Luka – e que tem estado inesperadamente silencioso durante toda a temporada. Com Kyrie Irving concentrado em ser simplesmente um excelente jogador e não o veículo cósmico para a sabedoria dos extraterrestres ancestrais de Ragnar-17, Luka tem tido uma ajuda preciosa. Quanto mais não seja ao nível de resguardar a sua condição física. A presença de bigs como Daniel Gafford e Dereck Lively II oferece-lhe também uma arma crucial no pick and roll, bem como uma ajuda essencial na defesa do garrafão.
Onde o problema continua a residir é na profunda inconsistência das suas armas no perímetro. Eu, que vejo os jogos dos Mavericks sem ligação emocional, fico consistentemente frustrado com a quantidade de oportunidades de tiro exterior criadas pelo playmaking de Luka que são desperdiçadas. Nem consigo imaginar o que os fãs devem sentir. É algo que o front office de Dallas terá de continuar a limar – sob risco de, mais cedo ou mais tarde, começarem a suar frio com a possibilidade de Luka ponderar outras equipas.
Os Dallas Mavericks vão defrontar os Los Angeles Clippers nestes playoffs. Será certamente um duelo de detalhes e minúcias, decidido por fatores imprevisíveis como a explosão de um role player ou uma lesão no momento errado. Isto para dizer que não seria assim tão chocante se Luka e os Mavs fossem eliminados logo na primeira ronda. Mesmo que passem, mais tarde terão de lidar – presumivelmente – com os campeões em título, Denver Nuggets.
Ou seja, há uma forte possibilidade de Luka ficar aquém – no abstrato – do sucesso nos playoffs que se espera de um jogador do seu calibre. E começarão a chover hot takes sobre ele ser um empty stats guy. Consigo ouvi-los já a serem ditos na minha cabeça. Será absurdo, ignorante e profundamente injusto. Mas assim é a vida de um jogador com o talento e potencial de Luka Dončić. Para continuar a evoluir, terá de saber lidar com o bom e com o mau. E fazer figas para que Kyrie não se lembre que as pessoas não estão a falar sobre ele há demasiado tempo.