O que têm em comum Dennis Schröder, Andrew Wiggins, Giannis Antetokounmpo, Kristaps Porziņģis e Joel Embiid? Sim, para além de serem bastante competentes nisto de meter a bola no cesto. Sim, para além de serem as estrelas das respetivas equipas, à volta dos quais está a ser construído o futuro das mesmas. Sim, é isso mesmo. Nenhum deles é norte-americano. E faziam um cinco do caraças. A NBA está a ser invadida por jogadores nascidos fora dos Estados Unidos e, por mais muros que Donald Trump queira construir, não há nada que impeça esta tendência de aumento de não-americanos na liga.
No mapa da NBA havia, no dia de arranque desta temporada, 108 atletas não-americanos espalhados pelas trinta equipas da liga, oriundos de 42 países, o que representa um novo recorde. Pela quarta época consecutiva há mais de cem atletas internacionais na NBA, incluindo um recorde de 64 europeus, e não existe uma única equipa que não tenha, pelo menos, um jogador nascido fora dos Estados Unidos. Os Toronto Raptors e os Utah Jazz são as equipas com mais internacionais no plantel: sete. Seguem-se Boston Celtics, Philadelphia 76ers e San Antonio Spurs, com seis. E os países com o maior contingente são Canadá (11), França (10), Austrália (8) e Espanha (7).
E a culpa é — claro! — do Dream Team. O de 1992, onde brilhavam Michael Jordan, “Magic” Johnson e Larry Bird? Não, o de 2004, que contava nas suas fileiras com os nomes, consagrados hoje, de Allen Iverson, Dwyane Wade, LeBron James, Carmelo Anthony e Tim Duncan, entre outros.
Esse (suposto) Dream Team sofreu três derrotas em oito partidas — quem não se lembra do triunfo extraordinário da Argentina nas meias-finais? —, saiu de Atenas com uma medalha de bronze que ficou para a história e, mais importante do que isso, o peso de uma humilhação que mudou, em definitivo, a forma como eram vistos os atletas não-americanos.
Foi precisamente nessa altura que, pela primeira vez, a percentagem de atletas estrangeiros na NBA superou a barreira dos 20%. Uma escalada vertiginosa, se tivermos em consideração que eram menos de 2% em 1980 e perto de 10% no ano 2000. Hoje? Quase, quase nos 30%.
Os San Antonio Spurs também ajudaram — e de que maneira — a abrir os olhos dos americanos ao talento estrangeiro. O facto de serem um candidato ao título ano após ano durante praticamente duas décadas, numa liga cujas regras foram feitas para dar oportunidade a todas as equipas de ciclicamente chegar ao sucesso, levou a ESPN a questionar se a chave do êxito dos texanos era a forma como parecem privilegiar os jogadores internacionais e evitar os norte-americanos.
O trio composto por Tim Duncan (nascido nas Ilhas Virgens e escolhido na 1.ª posição do draft de 1997), Tony Parker (francês que foi a 28.ª escolha do draft de 2001) e Manu Ginóbili (argentino e 57.ª escolha do draft de 1999) esteve na base do sucesso recente dos Spurs e, sob o comando do génio de Gregg Popovich, Duncan, Parker e Ginóbili conquistaram quatro títulos entre 2003 e 2014 (o extremo/poste e o treinador somam, ainda, um quinto anel de campeões em 1999).
Tim Duncan, Tony Parker e Manu Ginóbili são, de resto, apontados como três dos melhores estrangeiros da história da NBA. Nesse lote estão, também, nomes como os do nigeriano Hakeem Olajuwon, do alemão Dirk Nowitzki, do canadiano Steve Nash, do espanhol Pau Gasol ou do chinês Yao Ming. Mas há muitos outros. E hoje, graças a todos eles, as equipas têm menos medo de apostar em nomes vindos de fora dos States.
E, na NBA atual, há cada vez mais superestrelas nascidas fora dos EUA a criar impacto. O grego Giannis Antetokounmpo, sobre quem escrevemos recentemente, é um dos candidatos a MVP da temporada, o letão Kristaps Porziņģis pode ganhar o prémio de Most Improved Player, o camaronês Joel Embiid tem reclamado para si o título de Defensive Player of the Year e o australiano Ben Simmons está bem colocado para ser distinguido como Rookie of the Year.
E, se a NBA decidisse adotar no All-Star Game o formato do jogo dos rookies e sophomores (Team USA vs. Team World), o problema da competitividade seria, certamente, resolvido.
Imagina isto e toma nota, Adam Silver.
De um lado, a armada norte-americana. A verdadeira Team USA.
Do outro, um cinco composto por Simmons, Wiggins, Antetokounmpo, Porziņģis e Embiid. No banco estariam Goran Dragić, Dennis Schröder, Nicolas Batum, Al Horford, Serge Ibaka, Nikola Jokić e Rudy Gobert. Mas também poderiam estar Ricky Rubio, Miloš Teodosić, Jamal Murray, Danilo Gallinari, Dario Šarić, Marc Gasol, Steven Adams e Jusuf Nurkić. Ou até outros.
Quem não gostaria de ver este jogo meta a mão no ar.
O fenómeno da chegada de atletas estrangeiros não vai ficar por aqui. A NBA prepara-se para acolher o mais-que-provável segundo europeu a ser escolhido na 1.ª escolha do draft, depois do italiano Andrea Bargnani em 2006. O prodígio esloveno Luka Dončić, que se sagrou campeão europeu pela sua seleção este ano e se estreou na equipa principal do Real Madrid aos 16 anos de idade, é apontado como um dos maiores candidatos a ouvir o seu nome antes de todos os outros rookies no draft de 2018.
Com o “Wonder Boy” Dončić, a liga terá mais uma ferramenta para alimentar a globalização da marca que iniciou após o impacto do Dream Team. O de 1992. E, mais do que nunca, esta nova linhagem de estrelas nascidas fora dos Estados Unidos vai tomar de assalto a NBA.
Artigo originalmente publicado no SAPO24