Os Sacramento Kings regressaram aos playoffs a toda a velocidade e assustaram os campeões Golden State Warriors que, de volta a casa, reduziram a vantagem da turma de Sacramento. A caminho do quarto jogo, a série entre Kings e Warriors já teve muito para contar e certamente não ficará por aqui. Damos uma vista de olhos ao que foi jogado até agora e ao que ainda estará por vir numa das melhores séries de primeira ronda dos últimos anos.
O dinâmico backcourt proveniente de Kentucky, composto por De’Aaron Fox e Malik Monk, dominou os jogos em Sacramento. Os Warriors não tiveram grande resposta para as várias formas que ambos demonstraram para conseguir cestos – e poucas vezes se mostraram agressivos o suficiente para lhes colocarem dificuldades na chegada aos seus sítios prediletos.
O Jogo 3 trouxe uns Warriors diferentes, sem dois dos seus melhores defensores, Gary Payton II e Draymond Green, mas com uma agressividade redobrada, dificultando a vida aos portadores de bola principais dos Kings. A melhoria nesse lado do campo, aliada a um maior movimento sem bola no ataque – a fazer lembrar uma equipa de Steve Kerr mais dominadora – devolveu a esperança aos campeões.
A dupla Fox-Monk
De acordo com o Second Spectrum, foram vários os jogadores que tiveram a dura tarefa de tentar parar Fox no Jogo 1. Payton, Wiggins, DiVincenzo, Thompson e Kuminga tiveram aproximadamente o mesmo tempo como defensores do base dos Kings, que marcou 38 pontos (48,1% de lançamento) na sua estreia nos playoffs.
No Jogo 2, foram Payton e Wiggins que dividiram as responsabilidades. No Jogo 3, sem Payton, foi o canadiano quem se assumiu como o defensor principal durante grande parte da partida. E esta redução no número de defensores atribuídos a Fox tem resultado, talvez pela familiaridade e pela repetição, tornando o base menos eficiente a lançar e a manter a bola na mão.
Malik Monk viu aproximadamente os mesmos defesas no Jogo 1 que o seu colega de backcourt, foi reduzido a Payton/Wiggins no segundo e encontrou pela frente um ultra confiante DiVincenzo no terceiro, que lhe provocou mais dificuldades do que nunca, após um excelente início de playoffs.
A principal diferença na defesa a Fox e Monk tem estado na facilidade com que chegavam aos seus locais favoritos e lançavam sem problema. Saídos do bloqueio direto, os defensores dos Warriors evitavam o contacto e passavam por cima do bloqueio, o que abria mais espaço e deixava o defensor do bloqueador – Green ou Looney – numa ilha contra jogadores rápidos e com variadas ferramentas ofensivas.
Os Kings passaram de 1,19 e 1,28 pontos por posse (PPP) nos dois primeiros jogos para 0,81 no terceiro. Uma mudança drástica que se prende com a maior agressividade e uma navegação diferente nos bloqueios diretos: passando junto com o portador da bola e chegando a contestar o lançamento, em vez de deixar essa tarefa ao defensor do bloqueio. Outro ajuste importante foi a maior ajuda dos restantes defensores, a fecharem o pintado e a deixarem mais espaço para os atiradores dos Kings, que se têm mostrado desinspirados.
Como defender Sabonis
Não tem sido a melhor série para Sabonis, alvo do tratamento “Ben Simmons” por parte dos Warriors, que lhe dão espaço no exterior, retirando as zonas que procura perto do cesto. Defendido por Looney, tem tido dificuldade em encontrar lançamentos, aproveitando sobretudo mismatches ou situações de 2×1, em que o seu defensor é chamado a ajudar.
Com a maior agressividade na defesa aos bloqueios por parte dos jogadores do perímetro, não é necessária tanta ajuda do defesa do bloqueador, o que retira a Sabonis passes fáceis para finalização. O poste dos Kings lançou 14 vezes em Oakland, mais do que no segundo jogo mas menos do que no primeiro, embora nesse tenha conseguido 12 lances livres.
Potenciar Stephen Curry
É notável o trabalho que os Kings têm feito a defender Stephen Curry. Constantemente em cima do base dos Warriors, dão-lhe pouquíssimo espaço. Isto obrigou Curry e Kerr a arranjar uma nova forma de envolver a estrela. Os Kings não tinham qualquer problema em trocar ou sair em 2×1 ao jogador dos Warriors, criando armadilhas para que este sofresse sempre com bola.
Qual foi a solução? Curry em movimento. Colocá-lo em ações de bloqueio direto iniciais, com passe para o extremo mais próximo e corte rápido para um pintado aberto. Isto aproveita a gravidade de Curry como lançador, que puxa os defesas para o perímetro e deixa espaço no interior.
Postes a rodar para o cesto
A atenção dada a Steph e Klay abre, como é habitual, espaço para que os bloqueadores rodem para o cesto. Os Kings, entendendo que tanto Looney como Draymond preferem agir como passadores do que como finalizadores, defendem perto do cesto e tentam forçá-los ao lançamento.
Um ajuste feito por Kerr, provavelmente forçado pelas ausências de Payton e Green, foi a utilização de apenas um não-lançador em campo (Looney) e a inclusão de jogadores como Kuminga. Embora lance pouco, Kuminga pode funcionar como espaçador no canto, movendo-se em função do seu defesa, em vez de se fixar no short corner como fazem habitualmente Green ou Payton.
Chaves para a passagem dos Kings
Colocar Fox e Monk em posições confortáveis. Os Warriors ajustaram e aumentaram a pressão na bola. É essencial devolver protagonismo aos bases, criando mais ações secundárias e fora da bola para ambos.
Utilizar Sabonis da melhor forma. Os Warriors dão-lhe todo o espaço exterior e o poste não parece interessado em lançar de meia distância. A solução? Continuar a usá-lo como hub ofensivo e esperar que Fox, Monk e até Huerter lancem de forma consistente, abrindo espaço.
Lançar melhor. Parece redutor, mas uma das equipas que melhor lançou do perímetro durante a temporada está em 27% nesta série. Os Warriors fecharam a área restritiva e forçaram o lançamento exterior. Os Kings estão a lançar menos perto do cesto e mais de fora. A eficácia não pode manter-se abaixo dos 30%.
Chaves para a passagem dos Warriors
Contribuições de todos. Não há milagres, nem para Stephen Curry. O base conseguiu encontrar formas de estar envolvido no ataque sem forçar demasiado, mas a atenção estará sempre nele. Klay e Wiggins têm tido uma boa série, embora irregular. Falta mais de Jordan Poole e da sua criação com bola.
Um Draymond Green focado. Looney não fará 9 assistências por jogo, sobretudo pela sua durabilidade limitada. Com tudo o que já se disse sobre Green, só ele pode dar a resposta certa. A equipa precisa dele nos dois lados do campo.
Melhor contenção no perímetro. Apesar do ajuste na defesa aos bloqueios, os Kings têm conseguido marcar em 1×1 e em catch-and-drives. Os bases velozes dos Kings criam problemas aos defensores exteriores dos Warriors e, se o lançamento exterior regressar à média, poderá haver más notícias para Golden State.