Comissão de Inquérito, 1.ª sessão: o SC Braga será uma das quatro melhores equipas da Liga Betclic
Nova rubrica da autoria de Gonçalo Naves
Bem-vindos à Comissão de Inquérito. É provável que não esperassem encontrar um texto sobre basquetebol com um tão promissor — ou tão improvável — início. Este espaço, apesar de não pretender encontrar culpados ou conduzir ninguém ao estrelato mediático, tem um intuito fiscalizador. Vamos, quinzenalmente, deitar o olho a narrativas instaladas na nossa comunidade basquetebolística, fazer os possíveis para as avaliar e perceber se correspondem à nossa verdade, se são, para já, exageradas ou se não passam de um mito que ganhou vida nas bancadas dos nossos pavilhões ou em fantasias das nossas próprias cabeças. Vale a pena prevenir que é expectável termos dificuldades em encontrar sempre essas narrativas, claras e óbvias como pretendemos. Resolveremos, nesse caso, o problema com igual facilidade e desplante: proporemos nós próprios a tese, faremos a sua avaliação crítica e retiraremos as conclusões que se impõem. Convidamos, naturalmente, os leitores a usarem do seu próprio juízo para fazer o mesmo.
Comecemos, então, com a hipótese desta primeira Comissão de Inquérito, que convidamos a guardar, testar e acompanhar ao longo da época: o SC Braga vale bastante mais do que as três vitórias e duas derrotas que obteve até agora e será uma das quatro melhores equipas da Liga Betclic. Na Liga, o registo é 3-2; em todas as competições, a equipa soma quatro vitórias consecutivas, incluindo a Taça Hugo dos Santos.
Analisemos os factos. O SC Braga foi uma das equipas promovidas à Liga Betclic, depois de ter vencido a Fase Regular da Proliga 24/25 e de ter feito, nos últimos anos, um percurso sólido e ascendente nos nossos campeonatos inferiores. Abriu a época com duas derrotas: frente ao Queluz (58-66) e contra o Esgueira (79-103). Venceu, de seguida, o Galitos (93-102), o Vasco da Gama (74-84) e a UD Oliveirense (66-63). Pelo meio, derrotou novamente a UD Oliveirense, para a Taça Hugo dos Santos (86-71). Depois das duas derrotas a abrir, a equipa do Minho somou quatro vitórias consecutivas entre Liga e Taça. Não só venceu como, em muitos momentos, convenceu: elevou os índices defensivos e ofensivos, bateu a UD Oliveirense por duas vezes e conseguiu triunfos em deslocações tradicionalmente difíceis, como Galitos e Vasco da Gama. A vitória frente à UD Oliveirense na Taça Hugo dos Santos parece ter sido decisiva para a mudança de shift nos bracarenses.
Olhemos agora para os artistas suspeitos. O plantel do SC Braga é feito à medida de quem procura vencer no curto prazo. A equipa tem condições para uma rotação de pelo menos dez jogadores com garantias de bom desempenho, com possibilidade de alargar ainda mais a ida ao banco. Além disso, todo o plantel tem experiência no basquetebol português e vários atletas passaram pelos principais emblemas do nosso desporto. Veja-se, a este respeito, os casos dos internacionais portugueses Litos Cardoso (ex Vitória SC, Sporting CP e UD Oliveirense), Cândido Sá (ex Sporting CP e Ovarense) e Ricardo Monteiro (ex SL Benfica, Sporting CP, FC Porto, UD Oliveirense e Vitória SC). Acrescentem-se Delaney Blaylock (ex CD Póvoa e Ovarense), Mike Fofana (ex Esgueira e Sporting CP) e Moussa Koné (ex Portimonense e Ovarense), talentosos, experientes e conhecedores da Liga Betclic. À festa juntam-se ainda, por exemplo, António Moreira (ex Imortal, UD Oliveirense, CAB Madeira e Lusitânia), o poste Somto Dimanochie (ex CD Póvoa), bem como Broderick Robinson e Jesse Bingham II, que transitam do plantel da época passada e terão um papel muito relevante dentro e fora de campo.
O SC Braga tem um plantel profundo e um treinador que conhece a casa como a palma da mão. Pedro Grenha é jovem e tem liderado a equipa minhota nas últimas épocas, garantindo várias das conquistas que asseguraram a presença na Liga Betclic e merecendo, por direito próprio, a confiança do clube para a maior missão da carreira. Tem sido um dos elementos fundamentais na criação da identidade da equipa e será colocado à prova nas alturas de maior pressão, quando terá de provar que está pronto para continuar a ganhar. Não quererá desperdiçar a oportunidade que lhe deu tanto trabalho.
Há, ainda, um outro aspeto relevante, simultaneamente causa e consequência do potencial sucesso da equipa: a estrutura. O SC Braga é um emblema ambicioso e exigente, que tem procurado construir um ecletismo semelhante ao das outras figuras maiores do desporto português. Estou convicto de que, ao contrário do que é normal suceder com formações recém-promovidas, o SC Braga não se contentará com o discurso prudente que aponta a manutenção como objetivo. Vai querer mais, tem de querer mais.
Terminemos com a lembrança do ponto de partida e arrisquemos ir mais longe. A equipa do SC Braga não só vale mais do que o registo que tem atualmente, como tem condições para terminar a época num dos quatro primeiros lugares da Liga Betclic. Cabe agora aos atletas provarem-no dentro de campo e aos leitores guardarem estas palavras para, no tempo certo, retirarmos em conjunto as devidas conclusões sobre o mérito da aposta.




