A versatilidade é uma das características mais valorizadas no basquetebol actual. A NBA não é excepção e chegam à liga jogadores com um conjunto de skills cada vez mais completo. Basta olhar para a 1.ª escolha do draft deste ano, Victor Wembanyama, que tem o corpo de um poste, o lançamento de um extremo "atirador" e a técnica individual de um base.
Os jogadores grandes são, talvez, aqueles que mais têm que demonstrar capacidade de se reinventar para terem sucesso na NBA dos nossos dias. E não apenas na versatilidade de skills, mas sobretudo nas posições em que podem ser utilizados, quer no ataque, quer na defesa. Aos bigs de hoje é exigido, por exemplo, que lancem de três pontos e defendam jogadores bem mais pequenos no perímetro.
Há uns que se tentam adaptar e responder às exigências do jogo moderno e há outros que vão um pouco mais longe. Zion Williamson é um big, mas tem "flirtado" com a ideia de se tornar ballhandler. Não tem desenvolvido o lançamento dos 7,25 metros, mas tem sido colocado em posição de utilizar a sua capacidade de manusear a bola e ser criador em 5x5 em meio campo, até mesmo no pick & roll (bloqueio directo).
Mas de que forma?
O vídeo em baixo mostra duas situações de PnR entre o ballhandler Zion e o bloqueador Jonas Valančiūnas. Nesses casos, o objectivo é apenas o de dar uma nesga de espaço a Williamson para atacar o cesto, mesmo que a área restrictiva tenha mais tráfego que o IC19 ou a VCI em hora de ponta.
Ao contrário do PnR clássico, os bloqueios directos para o ballhandler Zion são feitos na zona da linha de lance livre. O “tiro” de três pontos é inexistente na dieta de lançamentos do extremo/poste de 23 anos e a recolocação do bloqueador serve o propósito de deixar Zion mais perto das zonas onde é mais eficaz.
A shot chart de Williamson neste arranque de temporada mostra que as suas finalizações são feitas quase exclusivamente perto do aro.
Tornar Zion Williamson, que não tem lançamento exterior, num ballhandler no PnR pode parecer estranho, mas os Pelicans introduziram uma nuance no bloqueio directo. Por vezes, é um jogador mais pequeno - sempre um “atirador” - que dá o bloqueio a Zion e, após criar a vantagem para o extremo/poste, o bloqueador desfaz para o perímetro, onde é uma verdadeira ameaça.
Ao inverter o PnR, feito pelo jogador pequeno na zona da linha de lance livre para diminuir o número de dribles necessários para o big chegar ao cesto, a equipa treinada por Willie Green pode escolher entre o ataque vertical de Zion ou o passe para o bloqueador, que entretanto desfaz para os 7,25 e está preparado para receber e atirar.
A experiência tem sido testada com pouco volume, neste início de temporada, e por isso ainda não há métricas avançadas sobre o sucesso desta acção, mas as imagens falam por si.
Os Pelicans estão a ajudar a redefinir o conceito tradicional de papéis e dinâmicas no basquetebol, incorporando estes PnR invertidos para criar oportunidades ofensivas. E também os Milwaukee Bucks começam a utilizar acções idênticas, com Giannis Antetokounmpo como ballhandler.
O valor destes jogadores versáteis aumenta a cada dia e os chamados tweeners, como Zion Williamson, estão a prosperar num ambiente onde a capacidade de desempenhar múltiplos papéis é considerada indispensável.
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