O calendário não parou e rapidamente chegou o dia da final da conferência Canada West. O adversário, a Universidade de Saskatchewan, era nem mais nem menos que o nosso grande rival e campeão em título. Uma equipa recheada de boas jogadoras, várias internacionais pelo Canadá e uma treinadora experiente.
Uma atmosfera de jogo extraordinária, um pavilhão completamente cheio de fervorosos adeptos de ambas as equipas, o jogo foi intenso e muito disputado até ao intervalo. No 3.º período “explodimos” em campo e conquistámos uma vantagem que soubemos gerir até ao apito final. Nesse momento, senti-me invadida por uma imensa felicidade. Éramos campeãs de conferência no primeiro ano, na minha primeira final.
A noite prometia, os fãs exultavam de alegria e foi por entre gritos que anunciaram:
“Player of the game is Carolina Gonçalves – Regina University.”
Foi arrepiante, foi intenso, foi muito bom.
Por fim a entrega dos prémios, os festejos entre colegas de equipa, treinadores, adeptos e a entrevista televisiva. Olhei a câmara, partilhei o que me ia na alma e, em direto, enviei beijinhos e muitas saudades para a minha família que ficou a apoiar em Portugal até às 3h da manhã.
À noite, foi muito difícil adormecer. A adrenalina continuava em alta e revia todo o “filme” da final, uma e outra vez. Por fim, as chamadas telefónicas para casa e, vencida pela exaustão de emoções, o sono acabou por ganhar.
A meio da semana, por entre treinos e scoutings, mais emoções: Carolina Gonçalves, Canada West Rookie of the Year.
Apesar de ser um prémio de reconhecimento de todo o meu trabalho ao longo da época, não houve tempo para celebrações. A Final 8 nacional estava à porta e não podia distrair-me: era preciso manter o foco nesse objetivo.
Primeiro jogo da Final 8, contra a Universidade Laval, campeã da sua conferência. A vitória colocou-nos na meia-final e fui MVP do jogo. Entrámos empolgadas na meia-final, novamente contra Saskatchewan, com quem disputaríamos a presença na final nacional. Perdemos por três pontos e ficou demonstrado que não há dois jogos iguais. Não estivemos bem, também por mérito do adversário, e uma pequena lesão num dedo da mão direita condicionou-me. Grande frustração para nós, que acreditávamos ser possível ganhar e sermos campeãs em casa, diante dos nossos adeptos.
Numa noite difícil, foi o carinho dos adeptos e, particularmente, da família e amigos – mesmo à distância – que me confortou e incentivou para o derradeiro jogo da época.
Havia um pódio para conquistar e foi com esse espírito que entrámos em campo para defrontar a campeã em título, a Universidade de McGill. Vencemos, num jogo muito equilibrado e disputado até ao último segundo. Ganhámos por três e garantimos um lugar no pódio, mas não foi fácil ver as novas campeãs de Carleton subir ao lugar mais alto. Estivemos tão perto de poder vencer…
Terminavam os jogos de basket desta minha primeira época no Canadá e voltava o quotidiano das aulas, trabalhos, apresentações e exames na universidade. Porém, repentinamente, a meio da semana, fui chamada com alguma urgência pelo meu treinador. A época já tinha acabado, não fazia ideia do que seria. Fui o mais rápido possível e, quando entrei, vi o Dave com um semblante visivelmente satisfeito, a contrastar com a tristeza dos últimos dias:
“Entra. Tenho uma notícia para ti”, disse-me.
Naquele momento sentei-me e percebi que só podia ser boa:
“És a Rookie do Canadá. Parabéns! A gala anual será no próximo sábado e tens de fazer um discurso, prepara-te bem.”
A gala foi espetacular, mas confesso que só consegui desfrutar depois do discurso. Preparei-me bem, escrevi tudo num papel para não me esquecer de nada e gostei. Foi bom, um salão repleto a aplaudir-me e o reconhecimento por todo o trabalho realizado. Tinham razão os meus pais quando me disseram, logo após a notícia:
“Quando pegares nesse prémio, lembra-te sempre de todas as horas de treino, de todos os sacrifícios que fizeste e continua a sonhar. Só com muito trabalho podes alcançar outras metas e vencer novos desafios.”
O tempo voou e, depois de umas mini-férias em Nova Iorque para recarregar baterias e de muitas noites de sono investidas a preparar os exames finais, estava na hora de regressar a Portugal. Sim, estava na hora de voltar a casa. Nem queria acreditar! O meu primeiro ano estava concluído.
Olho para trás e não podia estar mais orgulhosa daquela menina que chegou a Regina em agosto de 2017. Um ano de muitos sacrifícios, trabalho, aventuras e novas amizades chegara ao fim. Esta mulher estava prestes a aterrar em Lisboa. Aterrei e corri para os braços da minha família. Tinha dois pedidos: comida portuguesa e ir à praia. Não há país que se compare a Portugal.
Agora é hora de descansar, usufruir e preparar-me para o meu próximo desafio.
por Carolina Gonçalves (@cgon18)