🏀 Portugal no Mundial Sub19 Feminino: tudo o que precisa de saber
Calendário e links para os jogos, análise dos adversários, percurso histórico, jogadoras em destaque e os números que explicam a estreia da Seleção Nacional em Brno.
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De Matosinhos a Brno: uma estreia histórica
A presença de Portugal no Campeonato do Mundo FIBA Sub19 Feminino de 2025 não surgiu por acaso. É o culminar de um ciclo competitivo sólido, construído passo a passo, com base na aposta no talento nacional, na experiência internacional e num espírito colectivo que se foi enraizando em várias gerações.
A história recente ganhou forma no verão de 2024, quando Matosinhos recebeu o Europeu Sub18 Feminino. Frente ao seu público, Portugal apresentou uma equipa que misturava juventude e ambição, com várias jogadoras já habituadas a pisar palcos fora de Portugal, sobretudo nos Estados Unidos. Esse equilíbrio entre escola interna e bagagem competitiva exterior ajudou a fazer a diferença numa campanha memorável.
O torneio começou com vitórias emblemáticas frente a adversários de grande tradição. Portugal derrotou seleções como Itália, Alemanha, Sérvia, Croácia, Bélgica e Hungria, mostrando uma consistência competitiva que raramente se via nas camadas jovens femininas. Cada vitória confirmava o que se construíra nos estágios de preparação: uma equipa solidária, organizada na defesa, rápida a sair em transição e capaz de lutar nos ressaltos contra formações fisicamente mais fortes.
Um nome destacou-se: Clara Silva, poste de 1,98 metros, tornou-se rapidamente a referência da equipa dentro e fora de campo. Além de liderar Portugal em pontos (18.7), ressaltos (7.6) e desarmes de lançamento (2.0), a atleta natural de Faro revelou maturidade na forma como ancorava a defesa e abria espaço no ataque para as colegas se exprimirem. A sua inclusão no All-Star Five do Europeu Sub18 foi o reconhecimento de uma jogadora que simboliza uma geração inteira: tecnicamente evoluída, fisicamente preparada e mentalmente competitiva.
Mas este percurso não se fez apenas de individualidades. Ao longo dos anos, estas atletas cruzaram-se nos escalões Sub16 e Sub18, criaram laços em clubes, estágios e torneios, partilharam sacrifícios e vitórias. Essa identidade colectiva, reforçada pela liderança técnica do selecionador Agostinho Pinto, tornou possível um feito inédito: garantir pela primeira vez a qualificação directa para o Campeonato do Mundo Sub19 Feminino.
Em Matosinhos, as bancadas encheram-se para ver Portugal lutar até ao limite. Mesmo na derrota frente a Israel, a equipa mostrou capacidade de resposta, uma solidez emocional rara para a idade e uma clareza de processos que impressionou adversários e observadores. Terminou com um 5.º lugar histórico - o melhor de sempre - e um bilhete directo para Brno, na Chéquia, onde a elite mundial do escalão Sub19 marca encontro de dois em dois anos.
Esta qualificação directa representa mais do que uma presença simbólica: é a validação de um projecto de formação que insiste em construir oportunidades para jovens jogadoras, promovendo estágios de qualidade, inserindo atletas em contextos universitários de alto nível e apostando na preparação detalhada para cada torneio.
Brno surge assim como o próximo degrau. Para muitas destas jogadoras, será o maior palco que já pisaram, frente a adversários que cresceram num ritmo competitivo intenso desde os 12 ou 13 anos. A pressão é real, mas também a ambição. O percurso que começou em Matosinhos não termina em Brno: é mais um marco num caminho que visa elevar o basquetebol feminino português para patamares onde até há poucos anos era impensável chegar.
Preparação exigente: estágios e Torneio Internacional do Luso
Depois de garantir o apuramento histórico, a Seleção Nacional Sub19 traçou um plano de preparação para chegar a Brno nas melhores condições possíveis. Entre finais de Junho e início de Julho, o grupo orientado por Agostinho Pinto realizou dois estágios determinantes. O primeiro, em Pombal, permitiu afinar pormenores tácticos e encurtar a lista de convocadas para o Mundial. O segundo, no Luso, coincidiu com o tradicional Torneio Internacional, que se confirmou como o teste mais exigente antes da estreia mundialista.
Neste torneio, Portugal teve oportunidade de medir forças com três das seleções mais competitivas do escalão: Canadá, Espanha e Austrália. O ponto alto da participação portuguesa foi a vitória frente à Espanha, uma das escolas mais respeitadas da formação europeia. Depois de um início de jogo em desvantagem, Portugal conseguiu dar a volta ao resultado com uma segunda parte de grande intensidade defensiva, maior agressividade no ressalto e decisões colectivas de qualidade. Foi uma vitória que reforçou a confiança da equipa, validou o trabalho dos estágios e demonstrou que Portugal tem argumentos para competir frente a adversários com tradição e estrutura.
À medida que se aproxima o arranque da fase de grupos em Brno, a prestação no Luso deixa a certeza de que, mesmo enfrentando seleções fisicamente mais fortes, Portugal sabe adaptar-se, resistir a momentos de pressão e encontrar soluções colectivas para surpreender.
Convocatória: 12 jogadoras, 1 objectivo
A lista final de 12 atletas combina talento desenvolvido nos clubes nacionais com experiência além-fronteiras. Seis jogadoras actuam em universidades norte-americanas, o que lhes garante ritmo competitivo elevado e contacto com basquetebol de alto nível. As restantes seis completam um núcleo que se conhece bem das competições domésticas, formando uma base sólida para enfrentar o desafio de Brno.
A Federação Portuguesa de Basquetebol anunciou esta segunda-feira a lista de 12 nomes escolhida pela equipa técnica liderada por Agostinho Pinto:
Ana Marques (Clube dos Galitos)
Clara Silva (Texas Christian University, EUA)
Ema Karim (Hofstra University, EUA)
Leonor Neves (SL Benfica)
Magda Freire (Queens University of Charlotte, EUA)
Maria Andorinho (Saint Peter’s University, EUA)
Maria Fernandes (CPN)
Marta Rodrigues (CPN)
Marta Vieira (Eastern Florida State, EUA)
Rita Nazário (California State Nothridge University, EUA)
Sara Rodrigues (AD Vagos)
Sofia Sousa (Maia BC)
Nota final para a grande ausente: Carolina Silva, atleta de 1,87 metros do CPN, é uma das jogadoras mais promissoras da sua geração. Em 2024, destacou-se não só no Europeu Sub18 em Matosinhos mas também no Europeu Sub16 Divisão B, onde registou médias de 20.3 pontos, 9.7 ressaltos, 3.0 assistências, 2.6 roubos de bola e 3.1 desarmes de lançamento. Uma lesão grave, sofrida no início da época passada ao serviço do emblema de Ermesinde, obrigou a um longo processo de recuperação. Embora esteja já na fase final desse processo, Carolina ainda não reúne condições clínicas para integrar a equipa em Brno.
Grupo B: exigência e oportunidades
A Seleção Nacional Sub19 Feminina integra o Grupo B, onde enfrentará três realidades competitivas muito distintas, o que torna esta fase de grupos especialmente desafiante e imprevisível. Cada jogo será uma oportunidade de testar diferentes soluções tácticas, gerir momentos de pressão e lutar pela primeira vitória de sempre num Mundial desta categoria.
Calendário:
Sábado, 12 Julho | 13:30 | 🆚 Canadá
Domingo, 13 Julho | 10:15 | 🆚 China
Terça-feira, 15 Julho | 10:45 | 🆚 Nigéria
Canadá
Medalha de bronze na última edição do Mundial Sub19, o Canadá é apontado como um dos favoritos a regressar ao pódio em 2025. A equipa chega embalada por uma campanha sólida no FIBA Americas U18, onde conquistou o segundo lugar. O plantel combina dimensão física, intensidade no ressalto ofensivo e grande versatilidade no perímetro. Jasmine Bascoe deverá ser uma das referências - já integrou o All-Star Five no último AmeriCup Sub18 - enquanto Syla Swords, com experiência de mundiais anteriores, oferece capacidade de decisão exterior. Agot Makeer, por seu lado, dá atleticismo e agressividade defensiva. Para Portugal, este primeiro jogo será um teste de máxima exigência para aferir o ritmo competitivo necessário para enfrentar as fases decisivas.
China
A seleção chinesa é uma incógnita para este torneio, sobretudo pela incerteza em torno da presença de Zhang Ziyu, a poste de 2,21 metrosque já esteve integrada em estágios da seleção sénior. Se alinhar, a sua altura e fisicalidade condicionam de forma directa a luta das tabelas e a defesa da área pintada, impondo a Portugal a necessidade de encontrar alternativas criativas no ataque. Sem Zhang, a China mantém-se uma potência disciplinada, forte na execução colectiva, na defesa zona e no controlo de ritmo. Tradicionalmente, as seleções chinesas apostam em bases agressivas a atacar o bloqueio directo, o que exigirá boa comunicação defensiva por parte da equipa lusa. O jogo frente à China pode ser o verdadeiro ponto de viragem no grupo: uma vitória deixaria Portugal muito bem posicionado para discutir o apuramento.
Nigéria
Vice-campeã africana Sub18, a Nigéria é uma seleção com grande poder atlético, mas que ainda procura consistência nos grandes palcos internacionais. Idubamo Beggi e Abigail Isaac são os principais destaques, garantindo capacidade de penetração, rapidez em transições e pressão defensiva intensa. A Nigéria deverá explorar ao máximo o 1x1 e a superioridade física. Para Portugal, este será, em teoria, o jogo mais equilibrado da fase de grupos e a maior oportunidade de conquistar uma vitória histórica em Campeonatos do Mundo Sub19 Femininos. Saber controlar o ritmo, proteger a posse de bola e castigar eventuais falhas na defesa nigeriana poderá fazer a diferença.
FIBA U19 Women’s World Cup: por dentro da tradição
O Campeonato do Mundo FIBA Sub19 Feminino é o principal palco global de basquetebol jovem feminino desde 1985. Ao longo de quase quatro décadas, a competição revelou gerações inteiras de jogadoras que se tornaram referências no basquetebol mundial, da WNBA aos Jogos Olímpicos.
Números e factos que marcam a história:
10 - É o número de títulos conquistados pelos Estados Unidos, a seleção mais dominante na história do Sub19 Feminino (1997, 2005, 2007, 2009, 2011, 2013, 2015, 2019, 2021, 2023).
25 - A mais longa série de vitórias consecutivas pertence também aos EUA: 25 triunfos seguidos até serem travados na final de 2017.
5 - Só cinco nações conquistaram o título mundial: EUA (10), União Soviética (2), Austrália (1), Chéquia (1) e Rússia (1).
4 - Número de vezes que o país anfitrião chegou ao pódio. Espanha juntou-se a este grupo em 2023, repetindo o feito de Chéquia (campeã em 2001), Rússia (bronze em 2015) e Hungria (bronze em 2021).
11 - Países diferentes já disputaram uma final: EUA, União Soviética, Austrália, Chéquia, Rússia, França, Espanha, Suécia, Sérvia e Montenegro, Jugoslávia e Coreia.
219 - É o jogo com mais pontos combinados numa edição: União Soviética 117-102 Cuba, em 1989.
76 - É o jogo com menos pontos combinados: Mali 47-29 Senegal, no Mundial de 2013.
26 - O recorde de ressaltos num só jogo pertence a Naignouma Coulibaly (Mali), com 26 ressaltos em 2007 — uma marca que ainda ninguém bateu.
59 - Pontos combinados de Maria Vadeeva e Raisa Musina na final de 2017, quando a Rússia bateu os EUA num dos maiores choques da história da prova.
3 - Jogadoras que conseguiram estar no All-Star Five em mais de uma edição: Breanna Stewart (EUA), Astou Ndour (Espanha) e Maria Vadeeva (Rússia).
+3.2 milhões - O número de seguidores no Instagram de Caitlin Clark, um dos nomes mais mediáticos a sair deste Mundial: foi MVP em 2021 e campeã Sub19 antes de se afirmar como fenómeno universitário e profissional.
10/10 - Em algumas edições, a percentagem de jogadoras MVP que se tornaram internacionais séniores é praticamente total. Crystal Langhorne, Damiris Dantas, Frida Eldebrink, Marta Xargay, Breanna Stewart, A’ja Wilson, Paige Bueckers, Caitlin Clark e Iyana Martín Carrion são exemplos de trajectórias que começaram a ganhar notoriedade aqui.
Esta combinação de recordes prova porque é que o Mundial Sub19 é visto como o barómetro global do talento emergente. Portugal junta-se agora a esta tradição, sabendo que cada posse de bola em Brno é também uma oportunidade de marcar presença numa história feita de números, nomes e momentos que se prolongam muito para lá dos 40 minutos de jogo.