As primeiras lembranças que tenho de ti não correspondem à altura em que me apaixonei. A verdade é que o meu amor por ti começou numa fase em que eu não sabia o que era amar. Mas já sentia este amor.
Tinha apenas três anos quando me mudei com a família para Albufeira. O meu pai tinha aceitado o convite para treinar o Imortal, que na altura jogava na Liga. A avó Bé vivia conosco e tomava conta de mim durante o dia, enquanto o meu pai ia para as aulas e depois para os treinos, e a minha mãe também ia dar aulas. Foi então que comecei a apaixonar-me – ou, pelo menos, foi quando ficaram os primeiros factos que o comprovam.
Durante a tarde havia sempre algo que me deixava inquieto. Algo que mexia comigo e me fazia querer sair de casa. Para onde? A avó Bé contou-me que eu só parava de chorar quando me levava no meu carrinho para o único sítio onde eu me acalmava: o pavilhão do Imortal, onde o meu pai estava a dar treino. O chiar das botas, os gritos, a bola a bater no chão, as palmas… eu estava apaixonado e não sabia. Todo aquele movimento deixava-me tranquilo, em paz, como um grande amor deve fazer.
Cada dia que passava eu ia ficando mais apaixonado por ti. As primeiras memórias mais claras que tenho tuas são já no Algés, com seis anos, naquele campo ao ar livre onde dezenas de crianças jogavam diariamente. Os primeiros lançamentos sem força ainda para chegar ao cesto, mas com a certeza de que íamos ser muito felizes juntos. O equipamento com nós nas alças para não escorregar dos braços, sabendo que um dia íamos ficar mais fortes, juntos. Um constante friozinho na barriga antes de cada jogo e treino lembrava-me, dia após dia, como eu estava a ficar cada vez mais apaixonado por ti.
Este nosso amor deu-me quase tudo o que tenho hoje. Levou-me a viver em sítios incríveis, a conhecer cidades únicas, a fazer amizades para a vida. Levou-me a arriscar, a acreditar em mim, a querer ser sempre o melhor. Levou-me a sofrer, como qualquer grande amor. Mas, acima de tudo, fez-me sonhar. Fez-me sonhar em ter o crossover do Allen Iverson, misturado com o lançamento do Ray Allen, com uma pitada da magia do Magic Johnson, com a Mamba Mentality do Kobe Bryant e, claro, com a classe e grandeza do Michael Jordan.
Fizeste-me sonhar que eu podia ter sido isto tudo numa só pessoa. Fizeste-me acreditar que eu podia ser tudo o que quisesse.
É por isso que te digo, de coração aberto, que te amo para sempre, basquetebol.
por Miguel Barroca